Por Walter Lídio Nunes, vice-presidente da Associação Gaúcha das Empresas Florestais (Ageflor)
A insatisfação dos brasileiros e o anseio por mudanças visando a um país melhor se expressaram na última eleição. Apesar de desencontros, União e Estados estão conduzindo mudanças difíceis, enfrentando corporações e seus interesses. Neste processo, as gestões municipais têm sofrido menos pressão social, pois justificam que suas dificuldades advêm das esferas estaduais e federais. Nas eleições de 2020, é fundamental focar no papel dos municípios: eles também têm deveres de casa a cumprir, afinal é nas cidades que tem início a base da cultura do clientelismo patrimonialista de narrativa populista que suporta as demais esferas. A eleição se consagra pelas composições partidárias que, na prática, significam a distribuição cargos e a troca de favores entre a máquina pública e a base do governo. Os apoios políticos de muitas entidades legitimam o corporativismo das concessões aos seus interesses. Em muitas cidades, este processo inclui a participação de milicianos e de traficantes que, com seu apoio econômico, influenciam o resultado eleitoral.
Ações de cidadania política participativa municipal são o único anticorpo capaz de controlar este clientelismo patrimonialista, o “coronavírus” da política brasileira. Entidades e lideranças inclusivistas podem (e devem) atuar propondo e conduzindo discussões qualificadas sobre o processo eleitoral. Devem se mobilizar em favor de uma agenda condizente com os interesses sociais para assegurar o compromisso dos candidatos a prefeitos. A mobilização organizada da sociedade civil criaria a âncora para uma agenda convergente e para uma posterior evolução do controle social. Entre os itens a serem considerados nestas discussões, estão os processos de gestão e governança, a redução e o custo da máquina pública, a desburocratização e a digitalização – com transparência e monitoramento social –, entre outros.
O Brasil que queremos começa por uma gestão municipal qualificada, alicerçada numa participação popular interativa que proponha e exerça o controle social a fim de pressionar a governança pública a atender à comunidade local e, não, aos interesses eleitoreiros da velha política. Só a sociedade organizada e mobilizada poderá construir um Estado voltado para os seus interesses. Votar bem é apenas uma parte que precisa ser suportada com participação qualificada voluntária. Vamos começar? Basta decidir e dar início à ação.