Por Eduardo Neubarth Trindade, presidente do Cremers
Não é fácil discutir saúde pública. É um tema que, para ser debatido de forma séria e responsável, exige conhecimento e aprofundamento. As pessoas não se interessam pelas grandes pautas da saúde e, às vezes, desperdiçam tempo com novos tratamentos “milagrosos” e “da moda”.
Isto precisa mudar. O debate das políticas públicas na área da saúde precisa estar na boca do povo. A opinião pública precisa pautar o assunto e levar informação de qualidade à população.
A não ser em anos eleitorais, quando há solução para tudo, a saúde não ocupa as manchetes dos jornais nem é tema central das discussões. As decisões são tomadas com vieses ideológicos ou mercantilistas, sem a participação dos cidadãos nem dos médicos, que são aqueles que estão na linha de frente, atendendo os pacientes.
Frequentemente, temos a possibilidade de discutir grandes temas com autoridades na área da saúde, mas o debate não chega à população. Precisamos que as decisões saiam das salas de reuniões e cheguem à comunidade, que deve participar do processo decisório e, principalmente, ter conhecimento do impacto das políticas públicas na vida das pessoas.
Assim foi com a panaceia do Mais Médicos e dos Hospitais 100% SUS, que não conseguem manter as portas abertas por falta de recursos. Ou com a aprovação da Medida Provisória 890, que instituiu o Médicos pelo Brasil, cujo texto original foi deturpado no Congresso Nacional.
Também aconteceu com a qualidade da formação médica e a abertura indiscriminada de vagas e de faculdades de Medicina, temas debatidos à exaustão pelas entidades profissionais, mas que chegaram de forma tímida nas onipresentes redes sociais ou nos aplicativos de mensagens. Temos que repensar o debate da saúde pública no Brasil. Sobram meios, falta interesse.
Discutir saúde pública não é fácil, mas não a ponto de excluir a parte mais interessada em sua repercussão: a população. Com um pouco de esforço e aprofundamento, a sociedade pode e deve abraçar sua parte nesse debate que, afinal, pertence a todos.