O texto abaixo, de Ibsen Pinheiro, é o último do ex-deputado federal no jornal Zero Hora.
Ele foi publicado em 7 de janeiro. No material, enviado ao colunista Tulio Milman em 27 de dezembro de 2019, Ibsen assina como jornalista.
Ibsen morreu cerca de um mês depois do envio, nesta sexta-feira (24), aos 84 anos. Ele realizava um tratamento de saúde no hospital Dom Vicente Scherer, na Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre, quando teve uma parada cardiorrespiratória.
Dúvidas eternas
Clemer, Ceará, Índio, Fabiano Eller e Rubens Cardoso; Edinho,Wellington Monteiro, Fernandão e Alex; Alexandre Pato e Iarley — será este o melhor Inter de todos os tempos? Duvido. Quantos craques haverá aí?
No máximo dois, com restrições: Fernandão, quase um ex, trilhando o ocaso, e Alexandre Pato, cujo brilhante futuro era uma hipótese. E esses únicos craques potenciais ainda foram substituídos na final.
Veja o resto. Um goleiro veterano sem destaque, um central vindo já maduro do interior do Estado, dois laterais de ofício sem brilho e um quarto-zagueiro eficiente que veio preencher carência notória. No meio-campo, dois operários — Edinho e Wellington Monteiro — completavam dois armadores, por trás de dois atacantes que se conjugavam na média de idade, um veterano e um novato. Nada demais para um Campeão do Mundo.
Gainete, Madureira, Pontes, Walmir e Jorge Andrade; Carbone, Tovar e Dorinho; Valdomiro, Sérgio e Claudiomiro. Algum reforço notável, ou só Carbone, o único?
Algum craque nessa formação?
Vários do esforço e da dedicação, nenhum da conjugação de tudo isso com técnica superior e consagradora. Os craques começaram a chegar depois de 1971, com Figueroa, Falcão, Lula, Jair, Marinho e a consagração de Carpegiani.
Conclusão, uma sólida dúvida: é o herói que faz a História, esculpindo-a com as próprias mãos, ou é a História que forja os atores dos seus desígnios? Não se envergonhe com a própria dúvida. Ela tem o tamanho da História ou, pelo menos, a idade da filosofia socrática. Minha resposta vem com Sócrates, só sei que não sabemos.
Nesta hora em que o Internacional consulta infindáveis listas de reforços, oficiais ou falsas, me ocorrem comparações do momento atual com o maior campeão da história — do Mundo — e com o primeiro campeão da maior década colorada. A não ser que a definição tenha vindo com Menotti, o campeão mundial (sem craques) de 1978: uma equipe começa com a ideia de uma equipe. E ideias era só o que os mandarins e Fernando Carvalho tinham para oferecer, em 1969 e em 2006, a ideia de um time que nasce banal e termina consagrado, porque é assim que se monta um time vencedor — nunca um decreto, sempre um processo.