Por Mauro Fiterman, advogado, professor universitário
Nós nascemos e crescemos ouvindo dizerem que "Errar é humano". Trata-se de uma frase que alcançou ampla repercussão e que, como espécie de máxima, acabou ganhando espaço no dia a dia das pessoas. Buscando a origem da frase, encontra-se a autoria do poeta londrino Alexander Pope, que viveu entre 1688-1744 e que escreveu "Errar é humano; perdoar, divino". Isso mesmo, passaram a usar a referida frase eliminando-lhe a parte final. Não reputo tão relevante esse decote; afinal, qualquer tipo de manifestação artística vale muito mais pelas suas repercussões naquele que a recebe do que por aquilo que representava a intenção de seu autor.
E, muito embora esse decote se tenha dado, o "errar é humano" sempre surgiu em um contexto de diálogos e sentimentos nos quais o perdão assumia a condição de uma consequência natural, ou seja, trata-se de algo que fazia parte do mundo humano. Sim, os erros cometidos, nos limites da universalidade dos valores humanos, seriam toleráveis.
Entretanto, num verdadeiro novo e importante espaço que foi criado e, a partir daí, passou a integrar o nosso mundo, se vê uma negação da frase de Pope. A implementação da internet e, mais adiante, das redes sociais, cruelmente, retiraram o direito de errar. Hoje, quem erra está condenado a uma pena perpétua numa das piores prisões que pode existir: a prisão social, aquela que retira a liberdade de toda e qualquer coexistência. A intolerância atingiu patamares tão elevados que se eliminou a hipótese do perdão. Mais do que isso, apropriou-se do alto e nobre direito de definir quem errou, pois, agora, "quem não concorda comigo está errado". O mais grave (há algo ainda mais grave!) é que, não raras vezes, sequer houve a tal discordância e, pior, sequer houve alguma manifestação. Mas, isso não interessa mais. Agora já foi! Já era! E sem perdão. Mas, como disse Anne Frank, "apesar de tudo eu ainda creio na bondade humana".