Por Eduardo José Grin, cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas/São Paulo
Partidos políticos e democracia representativa nasceram praticamente juntos. Com mais cidadãos autorizados a votar, passou a ser necessária uma instituição política para representar as preferências coletivas, eleitoralmente. A crescente complexidade das estruturas sociais, sobretudo nos países ocidentais, foi constituindo grupos e classes com interesses distintos. O voto no partido começou a expressar preferências grupais na competição eleitoral que passou a caracterizar as democracias pluralistas ao longo do século 20. Agremiações partidárias nasceram com a responsabilidade de aglutinar adeptos de visões de mundo para assim organizar a disputa política e buscar apoios na sociedade para as suas propostas.
A liberdade de constituir partidos para conquistar espaços em parlamentos ou para ser o governante eleito se tornou o modelo de funcionamento que ainda hoje caracteriza as democracias representativas. A crise da democracia que assola diversos países e a descrença de parcelas da sociedade nas suas instituições políticas, como é o caso dos partidos políticos, intensifica as críticas sobre a sua relevância.
Quando 66,5% da população brasileira não tem qualquer confiança nos partidos (Latinobarômetro, 2018), vê-se evidências para justificar a debilidade de nossas agremiações. Ok, temos uma fragmentação partidária ímpar em termos comparados com trinta e cinco em funcionamento. Temos mais de 52% da população sem preferência partidária. Movimentos de renovação política têm surgido prometendo oxigenar a participação eleitoral.
Todas essas questões são verdadeiras e possivelmente sejam efeitos dos defeitos dos nossos partidos. Mas não há democracia sólida com siglas fracas. Democracias representativas fortes sempre dependeram de partidos e sistemas sólidos, e nunca de lideranças populistas. Ainda que maioria das legendas no Brasil possa ser pouco mais que uma sigla, os partidos políticos seguirão protagonistas da competição política e da organização das preferências dos eleitores. Fortalecê-los segue sendo uma escolha da sociedade e dos eleitores.