A proporção tomada pela conflagração interna do PSL supera em muito o que poderia ser apenas uma crise partidária. A contenda aberta na legenda que abriga o presidente da República, recheada de acusações de traições, vazamentos e xingamentos, é extremamente grave por ser uma ameaça à governabilidade do país. Jair Bolsonaro chegou ao Planalto descartando as alianças típicas do presidencialismo de coalizão, que convencionou chamar de velha política, mas em nenhum momento conseguiu colocar uma alternativa viável em seu lugar e montar uma base sólida para aprovar matérias de interesse do governo. Aos 10 meses de mandato, parece que nem sequer pode contar com o PSL por inteiro, devido à implosão da legenda.
Se a interlocução com o Congresso já era amadora e errática antes do racha no PSL, fica difícil imaginar que a agenda legislativa do Planalto flua com mais naturalidade daqui para a frente
A barafunda eleva a instabilidade política em Brasília e torna ainda mais incerta a capacidade da gestão Bolsonaro de fazer passar, no Congresso Nacional, as reformas estruturais que o Brasil clama para ajustar as contas e se modernizar. Afinal, uma das marcas do atual governo é fabricar as próprias crises. O projeto da Previdência, por ilustração, andou mais pela compreensão dos parlamentares da sua importância do que por mérito palaciano. E, até agora, não teve a votação finalizada no Senado. Com a pancadaria solta, aumentam as interrogações sobre o destino das reformas tributária e administrativa. Se a interlocução com o Congresso já era amadora e errática antes do escancaramento do racha, fica difícil imaginar que a agenda legislativa governamental flua com mais naturalidade daqui para a frente. Um péssimo augúrio para o Brasil.
A erupção no PSL, dividido entre os bolsonaristas e os seguidores do presidente do partido, Luciano Bivar, está longe de ser uma surpresa. Assim como inflou artificialmente na onda conservadora que varreu o país nas eleições do ano passado, o partido murcha rapidamente em meio à beligerância intestina de seus membros, a denúncias envolvendo candidaturas de laranjas e às confusões do clã presidencial.
Há ainda o importante elemento desagregador e motivo de disputa encarniçada: o naco gordo dos fundos político e eleitoral a que o partido tem direito. A instalação da balbúrdia, alimentada pela briga por recursos públicos, deixa claro que o modelo atual é repleto de falhas, se não um desastre completo para o país. Toda essa desordem só reforça a convicção de que a mãe de todas as reformas deveria ser a política.