Por Fernando Uberti, médico e diretor de Interior do Simers
A disseminação e o agravamento do sofrimento mental na sociedade é algo detectado por todos os médicos na linha de frente, independentemente de sua especialidade. Desde os ginecologistas, passando pelos cirurgiões, e chegando até aos pediatras, cada vez atendemos mais pacientes que têm como causa primária de seu conjunto de sintomas o sofrimento psíquico.
Levantamento realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que, no Brasil, 86% da população sofrem com algum transtorno mental, como ansiedade e depressão. Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná respondem, juntos, por 23% das taxas de tentativas e óbitos por suicídio no país, destaca estudo realizado pelo Ministério da Saúde.
Entre a categoria médica, levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) com 7,7 mil profissionais revelou que 44% deles apresentaram depressão ou ansiedade. Outros 57% atestaram estafa e desânimo com o emprego. Em meio a nossa rotina esgotante, os casos crescentes de suicídio entre médicos assustam, como consequência mais trágica dos agravos em saúde mental. Mas o choque costuma ser sucedido por incredulidade e falta de compreensão, quase nunca de reflexão.
Nosso modelo de formação nos educa a sermos inabaláveis, resistentes e imunes ao próprio sofrimento, físico ou mental. E os estressores encontrados nos ambientes profissionais são constantes. Assédio moral é encarado como um processo natural de crescimento, parte de um modelo de desenvolvimento que nos tornará mais fortes e capazes.
Nesse sentido, é nosso papel falarmos sobre. Mostrar aos médicos que somos sim merecedores de cuidados, que devemos identificar quando precisamos de ajuda, ou quando nossos colegas precisam de ajuda. Nossos pacientes precisam que seus médicos tenham uma boa saúde mental. Nós precisamos ter uma boa saúde mental, cuidar de nós mesmos para cuidarmos dos outros. Esse gesto de humildade pode ser o caminho para uma vida profissional e pessoal mais gratificantes.