Por Daniel R. Randon, presidente das Empresas Randon
Gosto sempre de contar para as pessoas um dos ensinamentos que tive aos 7 anos. Ao chegar em casa com uma fruta que tinha pego naturalmente ao passar por uma fruteira, minha mãe, D. Nilva, perguntou onde eu havia conseguido. Simplesmente peguei sem pagar. Minha mãe, ao descobrir o meu ato ilícito, teve uma atitude imediata: me pegou pela mão e me levou de volta ao estabelecimento para pagar pela fruta e pedir desculpas ao dono da fruteira. Na minha cabeça de menino, até aquele momento, não achava que teria algum problema pegar uma fruta em meio a uma quantidade enorme delas.
A lição foi dada e me mostrou que, independentemente do valor monetário de uma fruta, a atitude estava errada e se configurava, sim, em roubo!!! Em casa, replicamos a história com os filhos ao cruzar em frente ao presídio mostrando onde estão reclusos aqueles que roubaram ou cometeram outros crimes, mas que começaram com pequenos delitos. E sei que a lição também ficou gravada na cabeça deles.
Fico chocado quando ouço pessoas proferindo o dito popular "achado não é roubado e quem perdeu é relaxado", como se uma apropriação indébita fosse legal. Se quisermos mesmo acabar com a corrupção no Brasil, além de banir a impunidade dos criminosos, é necessário educar – em casa e na escola –iniciando um debate permanente sobre ética, direito e moral. Embora muitas condutas sejam sabidamente imorais, a sociedade, muitas vezes, desconhece que, além de imoral, também é crime.
É fácil falar e apontar a corrupção de grandes criminosos que aparecem nas capas dos jornais, revistas e televisões, mas a reflexão que precisamos fazer é: será que não somos coniventes no dia a dia na nossa comunidade com pequenos atos ilícitos? É correto não emitir nota fiscal, não declarar Imposto de Renda, falsificar carteira de estudante, dar/aceitar troco errado, fazer "gato" da rede de energia, fazer "up grade" ilegal da assinatura de TV a cabo, furar fila, comprar produtos falsificados, bater ponto para o colega de trabalho ou falsificar assinaturas?
Vivenciamos hoje uma sociedade contaminada por atitudes que viraram padrão, esquecendo que o errado é errado. É o bom exemplo na prática que educa nossos jovens e não a teoria das palavras.