Por Marcelo Nonohay, administrador de empresas
A mínima de 4°C prometia fazer da noite da última sexta-feira a mais fria do ano. O Inter decidiu abrir as portas do Gigantinho para receber pessoas em situação de rua. O Grêmio não poderia ficar parado. O clube anunciou que mandaria um ônibus com donativos. Quem conhece a rivalidade entre os dois clubes sabe que ela é digna de estar em qualquer lista das 10 principais do mundo. Mas o que uma iniciativa dos dois times tem a ensinar para as grandes fundações e institutos empresariais que atuam no investimento social privado do Brasil?
Nosso país é cheio de exemplos de projetos com alto nível de excelência, em que o setor privado investe no desenvolvimento social. Segundo o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), o volume total investido no setor foi de R$ 2,9 bilhões em 2016. Cerca de 60% desse total é direcionado para programas "próprios". Diversas iniciativas são parecidas, partem de fundamentos teóricos similares e, inclusive, comprovam impactos igualmente relevantes. No entanto, o esforço torna-se desarticulado devido a diferenças nos territórios de atuação, área temática ou porque cada um está em busca do mérito pela invenção de uma solução revolucionária. Parece que há uma falta de comunicação intrassetorial. O compartilhamento superficial das boas práticas e a quase inexistente troca das ações que fracassaram estimulam a atuação isolada em detrimento do uso de soluções já validadas.
É evidente que não estamos equiparando a iniciativa da dupla Gre-Nal com os projetos realizados pelas grandes fundações, pois se trata de uma ação que visa atender a uma demanda emergencial. Futebol vai muito além do entretenimento. No caso da abertura do Gigantinho, temos uma ação que pode inspirar as nossas vidas. De nada adiantaria um clube abrir seu ginásio no Praia de Belas e o outro distribuir colchões no Humaitá. O impacto é muito maior quando os dois clubes se unem em torno de uma única causa.