Em entrevista à revista Época poucos dias depois de ser dispensado da Secretaria de Governo da Presidência da República, o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz expressou uma preocupação recorrente em relação aos movimentos do núcleo mais ideológico do Planalto. Uma inquietação, aliás, que também aflige parte dos colaboradores do presidente Jair Bolsonaro. Ao admitir a existência de "um show de besteiras", reforçou a percepção de que, no coração do poder, há perda de tempo com polêmicas inúteis que desviam o foco e a energia do que realmente é importante para o país. Ou seja, enquanto o Brasil padece com uma economia estagnada, com 13 milhões de desempregados, criam-se
Enquanto o Brasil padece com a economia estagnada, criam-se controvérsias que apenas atrapalham
controvérsias que apenas atrapalham qualquer tentativa de retomada e, ao mesmo tempo, fazem surgir ruídos que causam estorvos à tramitação da reforma da Previdência no Congresso.
Mas, ao contrário do que parece à primeira vista, o general não saiu atirando, mesmo após ser submetido a doloroso processo de fritura. Na entrevista, reservou elogios ao governo a que serviu no primeiro semestre, apesar de lamentar as polêmicas desnecessárias. Assim, o que disse Santos Cruz deve ser analisado mais como um alerta, e não uma crítica de alguém magoado pela forma como foi descartado. São palavras que, portanto, servem para uma reflexão. Agir por impulso, falar o que vem à cabeça sem um mínimo de ponderação e engalfinhar-se em bate-bocas por redes sociais não resgatarão o país da crise. É preciso baixar a temperatura, dialogar e criar consensos. Por inexperiência ou ignorância mesmo, muitos governantes chegam ao poder considerando-se
senhores do céu e da terra. Mas nem em ditaduras e monarquias isso acontece, pois mesmo tiranos autocráticos têm de prestar contas a um círculo que lhes empresta sustentação.
Santos Cruz ressalta que ainda há tempo de apertar os parafusos. E exibir o que o governo está fazendo de bom, sem deixar que o relevante seja ofuscado por querelas geradas pela legião de lunáticos seguidores do filósofo de ultradireita radicado nos EUA. Uma das áreas que vêm mostrando serviço é a da infraestrutura, seguindo o planejamento iniciado na gestão Temer, com concessões e privatizações. E mesmo que não houvesse o que ostentar, restaria ao governo concentrar sua atenção nas reformas, a começar pela da Previdência. Mirar em temas realmente importantes ajudaria ainda a ocupar de forma mais útil as mentes das alas mais delirantes do Planalto e arredores.