Por Liziane Bayer, deputada federal (PSB)
O ambiente não poderia ser mais romântico. Um pequeno restaurante, à luz de velas iluminando os rostos de um jovem casal e um trio de cordas, criando a atmosfera perfeita para o dia dos namorados. De um lado o homem, 30 anos e olhos fixos no celular. De outro, a mulher, um pouco mais nova, mas com a mesma atenção dedicada ao telefone. O "date" com a tecnologia só foi interrompido quando um garçom inconveniente trouxe o jantar, obrigando-os a interagir. Poucas palavras, alguns olhares. A conta. A porta. A rua.
Presenciar uma cena dessas é como ver alguém endireitando a coluna. Automaticamente, esticamos a nossa. Peguei meu celular, deslizei a tela e coloquei em modo avião. O resultado? Uma noite sem notificações, sem respostas que poderiam esperar, sem desviar o olhar do que realmente importa. Será que não é hora de colocarmos mais vezes nossa vida em modo avião?
Não se trata de combater a tecnologia, até mesmo por que seria começar uma guerra derrotada. Trata-se de refletirmos sobre seu uso e a forma como ela tem dominado e prejudicado as relações humanas. Pessoas pedem comida por aplicativo pois "não suportam falar com o atendente". Colocam-se em prateleiras digitais de encontros em busca de incontáveis e superficiais "matches". Falam com o mundo, mas são incapazes de conversar com seus vizinhos.
Outro aspecto relevante é o agravamento do mal do século, a ansiedade. Quem nunca viu seu celular com 5% de bateria sem ter um carregador à mão não sabe o que é desespero, não é mesmo? Como vou chamar o transporte de aplicativo? Como vou responder meu chefe? O que meu marido ou minha mulher vai pensar? Como vou despertar pela manhã?
Se a pressão do mundo digital já aplaca adultos com toda sua força, imagine os efeitos que tem sobre as crianças e jovens. Batalha por likes, por views, pela popularidade efêmera das redes sociais. Isso sem falar no bullying que marca com dor e sofrimento a vida de milhares pequenos brasileiros – e que, agora, conta com o reforço internet, tornando o tema ainda mais sensível.
Respondendo a minha própria pergunta: sim, precisamos entrar mais em modo avião. Precisamos desconectar para nos reconectarmos aos nossos valores, nossos amigos e, principalmente, com nossa família. Vamos usar a tecnologia para resolver os nossos problemas, e não para resolver os problemas gerados pela própria tecnologia.