Por Cassio Grinberg, sócio da Grinberg Consulting
Em uma cena instigante do filme Bohemian Rhapsody (Estados Unidos, 2018), enquanto assistem à reprodução da performance de Love Of My Life no show do Queen no Rock in Rio, o personagem Freddy Mercury confessa à personagem Lucy Boynton: “O Brian (Brian May, guitarrista da banda) disse que foi o maior público pagante da história. A noite toda, eu não sabia se eles entendiam o que eu cantava. E, de repente, todos eles cantando. Milhares de vozes. Todos cantando para você. Porque é verdadeiro.”
Trata-se da sugestão de que, quanto mais sincera, mais universal tende a ser uma mensagem. No plano empresarial, chamamos isso de propósito: uma empresa só cresce quando se propõe honestamente a solucionar. A Dollar Shave Club, vejam que interessante, se utilizou da experiência em teatro do fundador Michael Dubin para criar comerciais surreais (do tipo, uma menina barbeando a careca do pai) que mostravam que poderíamos nos barbear sem precisarmos de camadas ultra-especiais de lâminas – por US$ 1 ao mês. Como resultado, o share da Gilette caiu quase 50%, e a Dollar Shave Club foi vendida por mais de US$ 1 bilhão para a Unilever.
Um pouco antes, no filme, em uma acintosa discussão com Ray Foster, da EMI, que pré-define Bohemian Rhapsody como um lamento semi-lírico de seis minutos composto de palavras sem sentido, os membros da banda fincam pé em gravar um single da música – que é recebida por Rolling Stone e Time Magazine como um desastre.
Trata-se de outra lição do Queen: a capacidade de não reproduzir a maneira consagrada de fazer as coisas, preferindo a originalidade à cópia, e mesmo a incerteza à aversão ao risco. Bem como fizeram, antes e depois deles, David Bowie, Lady Gaga, Spotify, Airbnb, Lyft, Uber, Method, Rent the Runway, Lululemon, Drybar, Starbucks, Instagram, Five Guys, Zappos, Wikipedia, Dell, Waze e todos empreendedores que reinventaram completamente a forma como uma indústria viria a funcionar.
Porque o público tem o senso para aplaudir verdade e coragem: o single Bohemian Rhapsody vendeu mais de um milhão de cópias em tempo recorde, enquanto a Time Magazine, que 10 anos antes previra que compras à distância nunca seriam populares, 10 anos após fará uma nova previsão: a de que uma empresa chamada Apple não passaria de uma bagunça sem visão estratégica e sem futuro.