Por Roger Lerina, jornalista
A notícia da morte de alguém querido naturalmente nos nocauteia de dor e desamparo. O golpe é em particular duro quando essa vida interrompe-se ainda prematuramente de maneira trágica e violenta. A existência nos joga então na cara, sem atenuantes, sua fragilidade e transitoriedade – pior: parece dar de ombros para algum sentido maior de justiça e nos acena com o acaso e o aleatório. Podemos sentir essa perda profunda não apenas quando morre um parente, esposo, amigo: o súbito desaparecimento de pessoas públicas, em especial artistas, é capaz de provocar esse sentimento de luto individual e até de arrastar seus admiradores em uma grande comoção coletiva.
Desconhecia quem era Gabriel Diniz, nunca escutei “Jenifer”, não é o tipo de música que costumo ouvir. Essa minha ignorância, no entanto, não impede em absoluto que eu me solidarize com o sofrimento daqueles próximos do cantor cearense e arrisque adivinhar a perplexidade pela qual seus fãs estão passando. A cultura de massas e o mundo do espetáculo midiático transformam artistas, celebridades e personalidades populares em uma classe de semideuses contemporâneos, capazes de conjugar os poderes e virtudes divinos e os vícios e desejos mortais, à maneira das figuras da mitologia clássica. Nosso sentimento é ambivalente com relação a esses personagens de dupla natureza: admiramos suas conquistas, fama, riqueza – atributos que talvez jamais alcancemos em nossas vidas –, mas também nos identificamos com seus defeitos e tropeços, sinais de imperfeição que nos são tão familiares.
Às vezes, entretanto, a narrativa dessas histórias de ídolos do nosso tempo envereda por caminhos distantes do transcendental e que ressaltam pungentemente sua triste dimensão humana. Gabriel Diniz pegou um avião para ir mais rápido ao encontro da namorada e surpreendê-la no dia do aniversário dela. Morreu com mais duas pessoas na queda da aeronave. Diferentemente das histórias da Antiguidade, não há lição moral a ser extraída desse tipo de tragédia.
Aqueles que amavam Gabriel Diniz, Mamonas Assassinas, Maysa, Cristiano Araújo, Marcelo Fromer, João Paulo, Chico Science e outros astros da música brasileira mortos em desastres ainda jovens e no auge de suas carreiras não encontrarão alívio na inconformidade, brigando com os céus e maldizendo o destino. Para desafiar essa ausência e iludir o vazio, a solução é seguir escutando as músicas deles, ainda e sempre.