Por Wrana Panizzi, professora, reitora da UFRGS de 1996 a 2004 e presidente da ANDIFES 2001/2002
Aceitar o resultado eleitoral é democrático. Assim, aceitamos o governo eleito. Isso não significa que entregamos carta branca para qualquer coisa ser feita. Mas em quatro meses, o que vemos é o desmonte do Estado brasileiro.
Que a estrutura do Estado tem problemas, ninguém nega. Que a corrupção integra o modus operandi é reconhecido por todos. Mas o verdadeiro problema não passa por aí, muito menos pelo andar de baixo e sim pelo andar de cima. Vivemos em um país onde 100 milhões de pessoas possuem o mesmo que cinco bilionários. Metade da população não tem acesso a saneamento e nem casa decente para morar. Apenas neste ano 434 pessoas foram assassinadas no Rio pela mão da polícia. E são milhões de desempregados e desalentados. Fica claro que o Estado está a serviço da concentração de renda, riqueza e patrimônio. É isso que deve ser combatido.
As reformas em curso aprofundam a concentração e o ataque às universidades públicas traz um apagão cultural e civilizatório. Fui reitora por oito anos da UFRGS. Já passamos por períodos de vacas magras, com muitos cortes no governo Fernando Henrique. E sobrevivemos defendendo a Universidade pública, gratuita e de qualidade. Penso que desperdiçamos o período de vacas gordas. E hoje, o que vemos é a gravidade de um cerco às universidades e à sua produção.
É bom lembrar que se hoje extraímos petróleo em águas profundas e somos os maiores produtores mundiais de aeronaves de médio porte é graças às pesquisas desenvolvidas nas nossas universidades. Não se constroem grupos de pesquisa pelo twitter ou whatsApp, esse é um trabalho de longos anos. O perigo que corremos é muito grande e a resposta do governo não só para a universidade, mas para a sociedade como um todo tem sido de mais cortes e restrições.
Mesmo assim, esta semana, consegui dormir melhor. A razão é que a sociedade está reagindo. Nesta quarta-feira (15), sairemos juntos em defesa da Educação. Vamos reagir ao apagão cultural. Já não era sem tempo!