Por Lara Lutzenberger, ambientalista
Alicerçam-se as primeiras vigas político-empresariais de um porto naval a ser implantado entre Torres e Arroio do Sal.
A paisagem litorânea não deveria ser impactada? A Itapeva ainda preserva charcos floridos por Droseras sp - diminutas estrelas rubis recobertas por gotículas pegajosas para captura de insetos, e dunas costeiras que, com vegetação perfumada, emolduram paredões e esculturas refeitas diariamente pelo vento – incansável e desapegado artista. A Guarita, com seus rochedos, surpreende, não importa a estação. Ambos ambientes, e mesmo o mar, poderiam sofrer danos irreparáveis com o avanço da estrutura urbana e com eventuais acidentes navais! Até mesmo o avanço predial, em seu gigantismo, compromete a discreta imponência desses patrimônios.
O porto alavancaria a economia regional? Mais movimento, mais riqueza para todos? Nos últimos 30 anos a ocupação litorânea luxuosa cresceu vertiginosamente. Mas calçamentos, praças e orla gritam por melhorias que não chegam por falta de recursos públicos! Diferenças sociais são evidentes. Mampituba e Valão há tempo que perderam sua balneabilidade. O próprio 'crescimento' não ampliará tais prejuízos a patamares irreversíveis?
O RS necessita de outro porto para facilitar o escoamento global de suas commodities? O mercado global está com seus dias contados por questões macro políticas e climáticas, que crucificam o transporte com alto consumo de petróleo. A ordem agora é localizar! Quanto ao escoamento, a dificuldade está na ausência de mais portos ou no acesso a eles?
Se queremos propiciar um turismo menos sazonal, cidades bonitas e uma economia local forte e saudável, a investida deveria ser em negócios de gastronomia, cultura, arte, entretenimento e serviços essenciais. E os portos já existentes deveriam passar a contar com uma eficiente rede ferroviária e fluvial, que além de bens de consumo, transporte-nos para outras paragens e resgate o encanto dos portos de outrora.