Por Walter Lídio Nunes, vice-presidente da Associação Gaúcha das Empresas Florestais (Ageflor)
O Brasil precisa reformar-se de acordo com novos paradigmas. Bolsonaro foi eleito graças ao sentimento social de rejeição ao status quo, mas ele desconhecia qual seria o novo cenário. O governo ainda não tem os planos para as rupturas que anunciou durante a campanha. Os desencontros de posicionamentos, agravados pelos grupos de governo desalinhados entre si, emitem sinais e falas que redundam em debates desqualificados e polarizados na sociedade e na mídia. Um exemplo foi a fala do presidente sobre os cursos universitários, em que ele afirmou querer mais cursos tecnológicos e menos cursos sociopolíticos. Essa fala repercutiu na sociedade a tese de que os segundos são dispensáveis e, neles, abrigam-se as posições da esquerda. Isto descaracterizou a discussão sobre a educação universitária como plano de desenvolvimento para o Estado. Cabe rever a governança da educação brasileira – o acesso, a gestão, os cursos, as grades curriculares e seu alinhamento com o planejamento do país –, tal qual Coreia do Sul e China fizeram para impulsionar o seu desenvolvimento.
Sabemos que estamos formando, hoje, pessoas para funções que não terão mercado em um futuro próximo, o que nos levará à falta de profissionais para sustentar a curva de crescimento brasileira. Atualmente, faltam médicos para atender aos cidadãos menos favorecidos, por exemplo. A Coreia do Sul planejou a formação de profissionais para industrialização e inovação focando em engenheiros e profissionais das áreas tecnológicas.
O Brasil tem 2,8 engenheiros a cada 100 mil habitantes (no Japão, são 17 e, na China, 13,8); enquanto temos 60 mil cientistas, os EUA têm 1 milhão, o que nos confere um baixo nível de inovação e de geração de patentes/ano: 41.453 (enquanto nos EUA são 2,2 milhões). Percebe-se que as universidades e entidades de pesquisa brasileiras ainda estão desassociadas do desenvolvimento dos clusters econômicos existentes ou da criação de novos. Como consequência, exportamos produtos de baixo valor tecnológico e deixamos de gerar empregos qualificados no Brasil.
No momento, temos discussões rasas sobre temas importantes em que, antes de se discutir a sua essência, rotula-se o emissor com tarjas de direita, esquerda, liberal, conservador, socialista etc. Os processos de diálogo e de comunicação mal reverberados obstruem debates qualificados, dando espaço para polarizações ou ideologias que impedem que análises visando a posições convergentes de consensos sociais ponderados se sobreponham aos debates desqualificados. Urge iniciarmos um processo de amadurecimento para a concepção de soluções que façam o Brasil evoluir, sem polarizações que diminuem a nossa capacidade de construí-las.