Por Por Marcos Breda, ator
Nasci em Porto Alegre dia 14 de outubro de 1960 e nesta cidade morei até 1986. Tempo suficiente para aprender uma porção de coisas que carrego desde sempre, vida afora. Minha cidade natal vive dentro de mim, como o caldo primordial de onde emergi e para onde sempre volto quando preciso crescer e tentar entender quem sou. "Fale de sua aldeia e estará falando do mundo." Tolstói sabia das coisas.
Fecho os olhos e vejo, como num filme em fast rewind, meus pais, minha família, a casa onde cresci, meus afetos e meus amores. Andar de bonde, atravessar a freeway rumo a Rainha do Mar, aprender a dançar nas domingueiras do Grêmio Náutico União, assistir 2001 no Cine Astor, aos "ciclos" do Cine Bristol, aos filmes em Super 8 e, caramba, filmar Verdes Anos.
Estudos nos Colégios Santa Família e São João, rodas de capoeira na Redenção, cursos de Engenharia e Letras na UFRGS, shows no Auditório Araújo Vianna, caminhadas pelo Bom Fim, uma cerveja no Bar Ocidente, corridas no Autódromo/Kartódromo de Tarumã e o rugido da torcida colorada no Beira-Rio. E os palcos dessa cidade: Renascença, Câmara, IPE, Presidente, Theatro São Pedro e, ainda, espetáculos decisivos como Trate-me Leão, School's Out, Macunaíma, Marat Sade, Bailei na Curva, Tangos e Tragédias, dentre tantos outros. Um bilhão de memórias que não caberiam nestes modestos "2000 caracteres".
Se eu pudesse desejar algo a esta cidade como presente de aniversário, desejaria que Porto Alegre começasse finalmente a se tornar Porto Alegre. Não um arremedo de São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York, Londres ou qualquer outro lugar. Porto Alegre não pode querer ser outra coisa a não ser Porto Alegre. Mas uma Porto Alegre em sua plenitude, digna de quem mora nela e dos anseios de quem viveu, vive e e ainda viverá por aqui. E se não for pedir muito, que seja uma viagem para o futuro e não para o passado. Muita gente boa lutou para que tivéssemos uma cidade mais justa, mais bela, mais culta, educada, hospitaleira e, por favor, menos egoísta e careta. Seria pedir demais?