Por Walter Lídio Nunes, vice-presidente da Associação Gaúcha das Empresas Florestais (Ageflor)
O resultado das eleições mostrou que a sociedade, ao não reeleger diversos políticos tradicionais, quer rupturas com o atual modelo político. As instituições federais vivenciam mudanças e passam por questionamentos que deverão atingir inúmeras estruturas públicas, estendendo-se aos Estados brasileiros. Os efeitos dessa transformação ainda são incertos, mas há esperança de que mudanças paradigmáticas levarão a um Brasil melhor. A continuidade desse processo se desdobrará nas gestões municipais e nas próximas eleições.
A municipalidade é a base e o início do processo de cidadania político-participativa para atender aos interesses da sociedade. Entretanto, hoje, a base municipal é a sustentação do modelo político-patrimonialista-corporativista-clientelista que elege deputados, senadores, governadores e partidos políticos.
A máquina municipal custa mais do que a sociedade local pode suportar, haja vista o mais de um terço de municípios brasileiros inviáveis financeiramente. Estima-se que oito em cada 10 prefeituras estão deixando de atender a seus compromissos, resultando em cidadãos que sofrem pela falta de serviços qualificados, além da dissintonia entre as esferas municipal, estadual e federal.
Diante disso, o controle social da gestão municipal é prioridade, visando a obter a eficiência que permita fazer mais com muito menos. Devemos estar atentos a aspectos tais como o número de cargos comissionados, a qualidade da ocupação desses cargos, a eficiência da gestão e a transparência nos resultados, a qualidade dos serviços prestados, se a ocupação dos cargos são acomodações políticas, se há loteamento partidário com prejuízo à qualificação do gestor, se as ações de governo são apenas “maquiagens” visando à próxima eleição, etc. A próxima eleição é de extrema importância, pois o exercício da cidadania política exige impor direções à gestão municipal — seja no Executivo ou no Legislativo — para assegurar os direitos da sociedade. Caso contrário, mais uma vez, os interesses da sobrevivência política e o respaldo da cadeia política estadual e federal continuarão se sobrepondo.
As eleições municipais serão determinantes para as mudanças de que o Brasil precisa fazer para crescer e tornar-se uma sociedade mais desenvolvida, com menos desigualdades sociais. A questão é se teremos capacidade de cidadania política que se sobreponha ao patrimonialismo clientelista populista para criar gestões municipais orientadas para a sociedade.