Por Gabriela Gonchoroski, cientista social
Os dados da violência contra a mulher no Brasil são estarrecedores. No Rio Grande do Sul, o primeiro semestre de 2018 registrou mais de 38.000 ocorrências. Que resultaram em apenas 100 prisões.
Em menos de 48 horas tivemos a notícia de que quatro mulheres foram assassinadas por (ex) companheiros. Esses são apenas alguns dados, parciais e impessoais. Apenas estatísticas não dão conta de descrever o cenário que nós, mulheres, vivenciamos.
É preciso que dialoguemos sobre a cultura do silêncio das mulheres violentadas, que se omitem de denunciar as relações abusivas por medo. Medo do preconceito. Medo do julgamento. Medo do constrangimento. Medo da ineficiência dos órgãos de proteção. Medo do agressor. Medo da sociedade e seus diversificados modos de culpar a mulher pelo fracasso da relação ou mesmo pelas ações criminosas cometidas pelo (ex) companheiro. Mas temos que ter claro também que não é só medo, é vergonha também. Porque fomos ensinadas que "algumas mulheres gostam de apanhar", em alusão clara de que a violência é fruto das escolhas e ações da mulher vítima da violência. Neste sentido, criou-se o mito de que "se apanha, é porque gosta".
Por mais que os órgãos de proteção e acolhimento às mulheres vítimas de violência estejam se estruturando, e melhorando, precisamos admitir que essa rede (judiciário, polícia e assistência social) é insuficiente para dar conta dos casos que ocorrem e são registrados. Lemos nos noticiários, diversas vezes ao ano, casos de mulheres que tinham medida protetivas e ainda assim foram brutalmente assassinadas. Nesse sentido, percebemos que é preciso que a sociedade, os amigos e a família estejam unidos nessa rede de proteção. É preciso que essas mulheres tenham suporte para dar a volta por cima, e sair da situação de violência. A violência sempre deixa um rastro de indícios, basta que estejamos atentos.
Temos, enquanto sociedade, que desmistificar as agressões contra as mulheres. Enfrentar esse tipo de violência demanda de um esforço coletivo. As ações devem iniciar dentro das nossas casas, com ensinamentos diários sobre a violência e respeito. Adentrar o currículo escolar, e promover nas escolas e universidades eventos que envolvam a comunidade escolar, e deem publicidade às ações de combate e enfrentamento a esse tipo de violência. É necessário ainda engajar órgãos como igrejas, associações, sindicatos laborais e empresariais, e conselhos representativos dos mais diversos setores sociais, em campanhas que divulguem formas de denúncias e meios de acolhimento às mulheres vítimas da violência.
Precisamos sempre ter claro em nossas mentes, que o amor não machuca, e nem mata. A covardia sim. E que a culpa não é da mulher, nunca! Porque nenhuma mulher gosta, precisa ou merece apanhar.