Preocupam os desencontros e improvisos que estão vindo a público no núcleo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) sobre temas cruciais para o país. Da falta de um intérprete oficial para atender a telefonemas de chefes de Estado estrangeiros ao bate-cabeça entre Paulo Guedes, principal articulador da área econômica, e o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), confirmado para a Casa Civil, a impressão é de que o novo governo foi surpreendido pela vitória. Um país das dimensões e da complexidade do Brasil, cujos rumos vêm sendo acompanhados com atenção por nações com as quais mantém algum tipo de relação, não pode passar essa impressão de falta de sintonia em relação a questões tão relevantes.
Espera-se que, com o processo de transição, a equipe responsável pelo comando do país a partir de janeiro dê por encerrado o amadorismo, marca registrada da campanha eleitoral. É preciso que, a partir da primeira reunião em Brasília, sejam adotados os protocolos mínimos de montagem de um governo à altura da importância do Brasil, fazendo com que esses contratempos sejam neutralizados.
A tarefa é facilitada por um dispositivo que vem sendo cuidadosamente preparado de forma republicana pela Casa Civil do Planalto. Também contribui nesse sentido a legislação federal que prevê os detalhes da transição e evita eventuais sobressaltos neste processo decisivo para o futuro do país.
Discordâncias sobre a reforma da Previdência, por exemplo, não chegam a ser inéditas. Divergências entre as áreas técnica e política também não são incomuns. O que preocupa é o fato de estarem ocorrendo logo após a confirmação do resultado das urnas e a exatos dois meses da posse. Indicados para o futuro governo, hoje em discordância aberta, precisam se dar conta de que não estão mais em campanha. Devem ter em mente também que suas manifestações repercutem no mercado, junto aos parceiros internacionais e entre os brasileiros em geral, que tendem a arcar com eventuais ônus das divergências.