Depois da definição de um time de craques incontestáveis para o seu primeiro escalão, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, provocou polêmica com a escolha do novo chanceler, Ernesto Araújo. É certo que a política externa de governos petistas cometeu atropelos, para não dizer absurdos, em série. Entre eles, estão a promoção de ditaduras como as de Venezuela e Cuba, e a proximidade de ditadores como o líbio Muamar Kadafi e Mahmoud Ahmadinejad, do Irã. A diplomacia brasileira, porém, é reconhecidamente profissional. Mesmo com esses surtos da esquerda instalada no Planalto, o Brasil conseguiu grandes avanços na reversão de sua imagem externa como nação destruidora de florestas e exterminadora de índios. A imagem do país não é apenas um conforto ético e moral: por ela trafegam acordos comerciais cruciais para a economia, em particular para o agronegócio.
Ao escolher um militante antiglobalização, o presidente eleito cometeu seu segundo grande equívoco quando se trata da crucial imagem do país. O primeiro deles foi o ataque a veículos e jornalistas e o anúncio de que usará verbas publicitárias do governo para punir vozes dissidentes. É salutar que o presidente eleito tenha recuado na saída do quase unânime Acordo de Paris e na pretendida junção dos ministérios da Agricultura e Meio Ambiente. Os mais prejudicados seriam agricultores e pecuaristas brasileiros, que enfrentariam o risco de boicotes e ainda mais restrições em acordos comerciais.
A política em relação à China não pode ser considerada ainda nem erro e nem acerto. Foram tantas idas e vindas que não se sabe qual será o curso em relação ao gigante asiático. O fato é que a China é hoje o principal parceiro comercial, e um alinhamento automático com os Estados Unidos não garante qualquer privilégio adicional ao Brasil na relação com o gigante do norte.
Que a política externa deveria ser desideologizada, em nome da paz, do bem-estar e do desenvolvimento dos brasileiros, não há dúvida. Mas, com sua escolha para o Itamaraty, o presidente eleito corre o risco de ter marchado na direção de um crescente isolamento externo. É exatamente o oposto do que prometia fazer em campanha, como já demonstram as ondas de críticas e de preocupação com o novo chefe da diplomacia brasileira.
Espera-se que, uma vez instalado na cadeira de Rio Branco, o futuro ministro retome a tradição de pragmatismo do país nas relações exteriores. O indicado precisa ter a devida percepção da dimensão de seu cargo e do que ele significa para 208 milhões de brasileiros e, como decorrência, para o mundo.