Por Matheus Capoani, pesquisador do setor de transporte aéreo e Mestrando em Administração
Na manhã do dia 29 de Outubro de 2018, um Boeing 737 8 MAX da Lion Air, companhia aérea da Indonésia, desapareceu dos radares e angariou muitas dúvidas sobre o novo projeto de aeronaves da Boeing.
A indagação dos especialistas, jornalistas e entusiastas do setor de transporte aéreo é de como uma aeronave com apenas 2 meses de uso, com pouquíssimas horas de voo e uma tripulação ao que aparenta ser experiente em um primeiro momento, pôde simplesmente perder altitude e cair no oceano?
Fazendo um parêntese, claramente não devemos analisar tão friamente esta questão. A idade de uma aeronave não indica sua confiabilidade, embora historicamente os acidentes aeronáuticos não ocorram com tanta frequência em aeronaves recém-lançadas.
O voo JT 610 partiu de Jakarta e tinha como destino a cidade de Padang, uma famosa ilha turística da Indonésia. Após 13 minutos de voo, ainda na fase ascendente, os pilotos relataram que estariam com problemas técnicos e regressariam ao aeroporto de origem.
Bom, já sabemos o triste desfecho da história deste voo.
Contudo, acredita-se que este acidente em especial trouxe algumas dúvidas perante o futuro da indústria aeronáutica, antes mesmo do resultado das investigações.
– O novo projeto de aeronaves da Boeing, o 737 MAX, será impactado negativamente após o ocorrido?
– A Lion Air, companhia aérea operante da aeronave, conseguirá se reestruturar e sustentar sua posição de líder de mercado em um dos países no qual o transporte aéreo mais cresce no mundo?
Tratando-se da companhia aérea, faço estes questionamentos observando acidentes que impactaram significativamente na indústria aeronáutica global. Tomemos como exemplo os trágicos acidentes envolvendo a TransAsia em 2014 e 2015, no qual a companhia anunciou a dissolução após os acidentes com vítimas fatais. Até mesmo a Pan Am, uma das companhias aéreas mais famosas da história, se desestabilizou após o atentado de Lockerbie em 1988, e a empresa que já estava de pernas para o ar, virou por completo.
Por outro lado, empresas como a Malaysia Airlines, que sofreu com dois grandes acidentes em 2014 e a American Airlines e United, após 11 de Setembro, conseguiram se reestruturar e perdurar sua posição representativa no mercado.
Empresas que já sofriam com prejuízos e dificuldades financeiras no período pré-acidente não conseguiram se recuperar e foram fortemente impactadas no período pós-acidente. Evidentemente, é impossível prever um desastre, ainda mais se tratando do modal de transporte mais seguro do mundo, em que as probabilidades de ocorrência destes sinistros são praticamente nulas.
A indústria aeronáutica global vem, ano após ano, trabalhando para reduzir, ou até mesmo anular o número de acidentes. Levando em consideração que há mais de 100 mil voos diariamente por toda a esfera global, consegue-se identificar facilmente que o transporte aéreo é e vai continuar sendo o meio de transporte mais seguro do mundo.
O risco sempre existirá. Seja voando, viajando de carro ou até mesmo caminhando na praça com seu cachorro em um domingo pela manhã, o risco é inerente à espécie humana. E quem disse que isso é ruim? Pelo contrário, é o risco que nos mantém vivos.
Apesar dos inúmeros acidentes na Indonésia nos últimos anos, vale ressaltar que a Lion Air sempre seguiu os padrões internacionais de segurança aérea. Ademais, cabe a nós aguardarmos pelas investigações concretas e desejar muita força aos familiares das vítimas.