Por Mauro Dorfman, sócio do Sistema Dez, presidente da Abap-RS
Atípico. Dramático. Imprevisível. Ou seja, o feijão com arroz da política nacional nos últimos anos. Assim foi o primeiro turno da eleição 2018. A principal característica deste pleito foi que você se esforçou para escolher quem merecesse ser seu deputado, senador e governador. Mas seu voto para presidente foi dedicado a impedir a vitória de tudo aquilo a que você se opõe. Um gesto de rejeição em um ritual coletivo de deseleição.
Muitas análises apontam para outro aspecto marcante. Estamos vivendo a eleição do WhatsApp. Parece que o tempo de TV já não importa. Quem teve o programa mais longo fez uma votação pífia. Um dos dois escolhidos tinha uns poucos segundos. Mas um olhar mais amplo mostra que ambos tiveram disparado a maior exposição na mídia. Pelas razões que conhecemos, eles frequentaram como nenhum outro as manchetes do horário nobre e as capas dos jornais e revistas. Protagonizaram o noticiário. As redes sociais pautaram, mas também repercutiram e ampliaram.
Deu no que deu. Vamos ao segundo turno.
Começa agora um jogo bem diferente. Não há mais escolha de parlamentares. Nas majoritárias, os candidatos têm tempos idênticos. Bola ao centro. E a disputa é justamente para conquistar o eleitor de centro. Já não basta ser o inverso do lado de lá. Os responsáveis pela articulação política tratam de ampliar alianças, já pensando em governar.
Enquanto isso, num plano muito mais simbólico, estrategistas de cada campanha deveriam usar todo seu repertório para combinar propostas práticas, sentimentos e expectativas, articulando uma narrativa que faça o eleitor enxergar um futuro melhor. Para ser bem sucedida, essa imagem tem que se projetar no precioso espaço onde se combinam o crível e o desejável. O problema é que o Brasil em 2018 está tão sem esperança que corremos o risco de assistir a uma estranha disputa em que triunfará quem oferecer ao público a mais atraente visão do passado.