Por Pedro Adamy, advogado, professor da Escola de Direito da PUCRS, presidente do Instituto de Estudos Tributários (IET)

Em 1967, Hannah Arendt escreveu o texto Verdade e Política (Truth and Politics), no qual afirma que "nunca se colocou a verdade como uma das virtudes da política" e que "mentiras sempre foram consideradas como necessárias e justificadas para os políticos e os demagogos". A realidade atual dá razão a uma das maiores filósofas do século 20.
No texto, Arendt enumera as instituições que são as responsáveis por controlar a verdade no discurso político. Dentre elas, estão a imprensa e a universidade. Ambas possuem características comuns e têm condições de trabalhar com "verdades factuais", ao contrário das opiniões, da torcida e das versões, cabíveis no campo da política. Para ela, o poder de tais instituições está no seu distanciamento, na sua crítica objetiva como observadores, não como partícipes. Arendt adverte que essas instituições possuem funções relevantes mas devem atuar fora do espectro político. Por isso, "elas demandam não-comprometimento e imparcialidade, e que estejam livres do auto-interesse em pensamento e nos julgamentos".
Com Arendt, pode-se afirmar que o excesso de politização da imprensa e das universidades trará consequências danosas para elas próprias e para toda a sociedade. Se estas instituições forem identificadas como atores políticos, torcendo a favor ou contra, seus adversários usarão de armas políticas (incluindo a mentira) para desacreditá-las e deslegitimá-las. Sem instrumentos objetivos de controle, oferecidos pela imprensa e pela universidade, tudo se curvará às versões e opiniões políticas. A política acabará por dominar tudo.
Independentemente de quem seja eleito, o país precisará de instituições fortes que limitem o poder e garantam o cumprimento da Constituição. Tanto as universidades quanto a imprensa terão papel decisivo nessa tarefa. Mas isso somente será possível se professores e jornalistas entenderem que não são torcedores, mas observadores e críticos da realidade política que os cerca. Para o bem da democracia. E de todos nós.