Por Lucas Fuhr, sociólogo e advogado
Muito se tem falado sobre o provável aumento do número de votos inválidos nesta eleição –isto é, os brancos e nulos –, o que já se constatou nas eleições de 2016. A mídia vem constantemente desmentindo a pior fake news desta eleição: a de que se muita gente anular o voto anula-se a eleição. A percepção negativa da política pela população sugere, para muitos, a ideia de votar nulo. Fala-se em repudiar "tudo isto que está aí". No entanto, a opção por se abster de incidir sobre os rumos do país em nome da idéia de que todos são igualmente ruins não condiz com o propósito central da cidadania, em que a participação de todos deve ser estimulada.
Não há como negar a compreensível frustração de todos nós com o atual cenário, em que grande parte da elite política restou desmoralizada, envolvida em denúncias de corrupção. No entanto, problemas desta ordem se resolvem com mais engajamento e vigilância cidadã, e não com repúdio a todos, indiscriminadamente. Este ano de reencontro do Brasil com as urnas pode ser encarado como um convite à repaginação histórica, num duplo desafio cívico: o de aprimorarmos nossos critérios morais na escolha dos parlamentares e o de elevarmos nossos critérios ideológicos e programáticos na escolha dos governantes. Devemos votar naqueles que busquem implementar a agenda política e econômica com a qual mais nos identificamos -"estado indutor", "estado mínimo", afinal, o que queremos? Ainda que todos os políticos possam merecer críticas, considerar iguais todas as suas idéias é uma generalização frágil, pois cada um chegou ao poder com bandeiras distintas – merecendo análise crítica do eleitor. Seus métodos podem ser parecidos, mas suas agendas de governo tendem a conflitarem entre si.
Por fim, o voto válido consistirá no ato cívico de direcionarmos o país para o rumo em que acreditamos, elegendo pessoas sérias e dignas para os cargos de poder. Omitir-se disso é, em última análise, uma opção pela alienação, como se os problemas da sociedade não nos competissem. Votar nulo é deixar de contribuir com a reconstrução do futuro.