A inadimplência, drama que atinge hoje mais de um terço dos gaúchos e se elevou no primeiro semestre tanto no Estado quanto no país, é um dos sintomas mais perversos da recessão, pois dificulta ainda mais as perspectivas de retomada do setor produtivo. Famílias altamente endividadas ficam presas a um círculo vicioso, sem acesso ao crédito e, portanto, ao consumo que poderia reaquecer a economia. Por isso, o percentual precisa ser reduzido logo, o que depende acima de tudo de uma definição mais clara sobre os rumos pretendidos para a economia por parte de quem vai disputar a Presidência da República.
Inadimplência em alta como a registrada pela Serasa Experian é uma triste companheira do desemprego. Um de seus aspectos perversos é o fato de atingir particularmente os mais idosos. Aposentados são muitas vezes seduzidos pela oferta de crédito fácil e simples. Como pagam juros menores nos empréstimos consignados, tendem a se endividar até o limite, frequentemente com o objetivo de auxiliar familiares. Em consequência, acabam tendo que recorrer depois a outras modalidades de empréstimos, que nem sempre conseguem pagar em dia.
As consequências dos elevados índices de endividamento vão muito além de afastar contingentes expressivos de brasileiros do consumo. De maneira geral, acabam contribuindo para desorganizar toda a economia, com atrasos tanto nos pagamentos de condomínio quanto nas contas públicas.
Uma redução no número de quem está com as contas em atraso exige crescimento sustentável, com retomada do emprego, o que só será possível em um ambiente de confiança nas regras e leis. É importante também que o país possa acelerar reformas que destravem empreendimentos e atraiam mais investidores externos, gerando mais riqueza e oportunidades de trabalho.
Ao lado da concessão responsável de crédito por parte de instituições financeiras e independentemente do tão esperado crescimento, é importante que sejam disseminados e aprofundados conhecimentos de educação financeira. Famílias, especialmente as mais humildes, precisam saber lidar melhor com o orçamento doméstico, procurando adequar sempre os gastos às receitas. E, principalmente, evitando que seus integrantes possam cair no canto da sereia de prestações a perder de vista e com juros nas alturas, que multiplicam os custos de aquisição de bens, até o dia em que a corda estoura.