Por Céli Pinto, cientista política – UFRGS
Após a gritaria nas ruas contra os políticos que não "nos" representam, após as múltiplas e espetaculosas ações da Polícia Federal, invadindo apartamentos e gabinetes de deputados e senadores, após o juiz de Curitiba ter se tornado uma espécie de salvador da pátria, muito provavelmente veremos eleitos, como deputados e senadores no dia 7 de outubro próximo, os mesmos deputados e senadores que têm mandato hoje.
Isto não ocorrerá porque o povo é burro ou desatento. Ocorrerá porque nós não escolhemos deputados e senadores ao nosso gosto, mas entre uma lista de pessoas feita à nossa revelia pelas oligarquias partidárias. Com deputados e senadores ameaçados pela Lava-Jato, com poucos recursos financeiros e tempo de campanha, a possibilidade do novo é mínima. Soma-se a isto o fato de que parte dos deputados não se elege pelo voto dado a eles, mas pelos votos dados ao partido. Portanto, a grande maioria de nós, eleitores, não elege ninguém.
Também poderemos ter um segundo turno nas eleições presidenciais nada original, entre o PSDB ( Alckmin) e o PT (Lula-Haddad). São os dois partidos com estrutura nacional, com nomes conhecidos, que já governaram municípios, Estados e o país. Parece que os candidatos fora dessas duas siglas têm tiro curto. Dois candidatos possuem alguma relevância eleitoral: Ciro e Bolsonaro. Em que pese a abissal diferença entre os dois, eles dividem uma característica, que afugenta eleitores e alianças: a total insegurança sobre o que seriam seus governos. Ciro é um político experiente, mas nunca sabe qual é seu lado. Bolsonaro é a expressão do conservadorismo atávico de certos setores da classe média, que veio a furo com a quarta reeleição do PT para a Presidência da República em 2014 e também a descrença na política de uma população empobrecida.
A segurança expressa nos candidatos dos dois grandes partidos deverá balizar o limite de seus votos. Há ainda jovens candidatos promissores, que terão papel importante no debate, mas dificilmente poderão se cacifar para um segundo turno. Talvez este não seja o pior dos mundos para a estraçalhada democracia brasileira.