Por José Luiz Aymay, advogado e Mestre em Direito Público
Matar não é necessariamente ruim. Desde que matemos a fome e o analfabetismo, e não famintos e analfabetos.
E por aqui já podemos perceber que ao contrário do que se pode imaginar, a palavra não é algo que se revela por ela mesma. É preciso interpretá-la dentro do contexto. E cá entre nós, quando a palavra é utilizada no ambiente da política, compreendendo-se aqui a política como instrumento de exercício de alguma forma de poder, não é uma tarefa fácil desvendar o real sentido do que é dito.
O político se utiliza da palavra para alcançar, primeiramente, o poder. Por isso, dificilmente falará tendo por base a razão. Necessita, fundamentalmente, que as palavras sejam lançadas na direção da angústia sentida por aqueles que tem o poder de colocá-lo no poder. O povo ouve o que é dito na esperança de ver exterminado, por exemplo, o seu sofrimento nas áreas da saúde, educação e segurança. Logo, os candidatos falam para as angústias do povo, e caberá a cada um de nós saber desnudar as palavras ditas, pois necessitamos, mais do que nunca, desenvolver o país para nós, brasileiros.
E não se pode duvidar que a bagagem filosófica influencia muito na forma como interpretamos o que nos dizem. A exemplo disso, quando digo a palavra "lula", alguns sentem água na boca pensando em argolas de lula ao forno, porém, outros deliram e se apaixonam mesmo não pelas argolas de lula, mas com argolas no Lula.
Sabemos que é fundamental matar a lula para quem pretenda lucrar servindo apetitosas argolas. Mas para quem sequer tem conhecimento de que é possível se alimentar de lula, soltar o bichinho talvez seja a melhor alternativa. Muito cuidado, se for para matar, repisa-se: que matemos a fome e o analfabetismo, e não famintos e analfabetos.
As eleições de 2018 estão cada vez mais próximas. Muitos dos pré-candidatos já estão por aí soltando o verbo em busca de votos. Por isso é necessário conhecer bem o contexto e os interesses daqueles que se utilizam da palavra para buscar o poder. Não esqueçamos de Confúcio: "Um homem de virtuosas palavras nem sempre é um homem virtuoso".