Depois de o país passar por verdadeiros momentos de pânico nos mercados, que tumultuaram a Bolsa e fizeram a cotação do dólar disparar, o Banco Central, finalmente, decidiu recorrer a armamento pesado. Com essa ação, que excluiu a possibilidade de reunião extraordinária do Comitê de Política Monetária (Copom) para mudar a taxa de juros, conseguiu debelar momentaneamente as turbulências. Ainda assim, a indefinição da campanha eleitoral, agravada pelo fato de os candidatos melhor posicionados nas pesquisas não se comprometerem claramente com as reformas, indicam mais incertezas pela frente. E, em consequência, novas reações à altura por parte do Banco Central.
Uma das contradições nesse caso é que, em comparação com períodos anteriores de turbulência, a situação brasileira se mostra até mais confortável, a começar pelo fato de o país contar agora com mais de US$ 380 bilhões em reservas cambiais. O Brasil paga hoje o preço do enfraquecimento político do governo, que ajuda a explicar a omissão em relação a mudanças inadiáveis. A reforma da Previdência foi deixada de lado e a privatização da Eletrobras não chegou a andar no Congresso. A instabilidade gerada pela inação agravou-se agora com as consequências da greve dos caminhoneiros.
Nesse cenário, nem mesmo vantagens como taxas de inflação e de juros baixas, além de uma situação folgada sob o ponto de vista das reservas cambiais, conseguem motivar os investidores a continuarem acreditando no Brasil. Isso ocorre porque, em momentos de turbulência, os mercados em países emergentes passam a se guiar mais pelas expectativas, exigindo ações cada vez mais firmes do Banco Central.
A hora é de serenidade e os poupadores não podem se deixar levar pela sensação de pânico, muitas vezes artificialmente criado em momentos de maior instabilidade. Só um país que tenha feito as reformas e se mostre comprometido com o ajuste fiscal tem condições de fato de acalmar investidores e impedir retirada abrupta de recursos por estrangeiros.
O Brasil não pode ser visto como um país inseguro e instável. As críticas e desprezo ao mercado por parte de candidatos com chances de vencer as eleições de outubro só agravam uma situação que já é difícil, comprometendo ainda mais as previsões de crescimento para a economia neste ano.