Por Milena Dalacorte, gerente regional da Endeavor Brasil
Empreendedorismo se tornou o termo da moda. Se há alguns anos o descolado era ter uma banda, hoje é abrir uma startup. De um lado, essa hype ao redor do tema cria uma massa crítica positiva de pessoas assumindo riscos e considerando o empreendedorismo como opção de carreira. De outro, porém, potencializa uma falsa ideia do que é abrir o próprio negócio e ter sucesso.
A influência das startups mais conhecidas mundialmente cria uma percepção simplificada de como elas foram construídas. Suas trajetórias são associadas a uma garagem, onde se cria um produto ou serviço desejado pelo mercado, contratam-se pessoas brilhantes, recebem-se milhões em investimento e, de repente, elas já valem mais do que empresas centenárias.
Contudo, o que a maioria das pessoas veem como sucesso repentino é, na verdade, o mercado reconhecendo o valor de um bom produto ou serviço que durante muito tempo ficou sendo aperfeiçoado enquanto os empreendedores se recusavam a desistir.
A realidade é que o empreendedor receberá inúmeros nãos, a solução não vai agradar ao mercado, o caixa vai secar, a empresa perderá bons funcionários e clientes de peso. As grandes empresas nascem pequenas e falham inúmeras vezes até acertar o seu modelo. São anos de trabalho duro, aprendizados, reinvenções e, finalmente, sucesso.
Recentemente, a gaúcha Nelogica, líder em tecnologia para trading na América Latina, foi aprovada no International Selection Panel, processo da Endeavor Global que avalia empresas com potencial de crescimento para diversos países. Das cerca de 5 mil empresas brasileiras analisadas todos os anos, menos de 1% chega a essa fase.
A Nelogica foi fundada em 2003, fora de um grande polo econômico, e nunca recebeu investimento externo. Nasceu da vontade de dois sócios que sonham, desde pequenos, em criar uma grande empresa de tecnologia no Brasil. Foram muitas mudanças no modelo de negócio, de aperfeiçoamento do produto, com altas doses de resiliência e de ambição, para, mais de uma década depois, ouvirem de líderes globais que estão no caminho para se tornar a maior empresa de tecnologia de investimento do mundo.
É necessário que os empreendedores hoje à frente de startups estejam dispostos a colocar o grande sonho na frente das dificuldades. Só assim as startups de hoje poderão virar scale-ups e, então, as próximas grandes empresas do Estado, do país e do mundo.