Por Mateus Bandeira, consultor de empresas, ex-CEO da Falconi, ex-presidente do Banrisul e ex-secretário de Planejamento do RS
Poucas atitudes podem ser mais contraditórias do que a decisão da Assembleia Legislativa de interditar o plebiscito sobre a privatização das estatais. É como se o cidadão que vai às urnas estivesse preparado para escolher novos governantes, mas não para dizer como devem agir os eleitos.
As três companhias em questão – CEEE, Sulgás e CRM – são ineficientes, deficitárias e carecem de investimentos que o erário não tem. Só isso seria suficiente para que os deputados aprovassem a venda. Ocorre que o Estado possui uma legislação esdrúxula: para criar estatais, basta um projeto de lei; para extingui-las, é obrigatória a realização de um plebiscito. Sendo essa a realidade, os parlamentares negaram a soberania do eleitor. Entenderam que os gaúchos não têm capacidade de tomar muitas decisões diante da urna.
O que parecem desconhecer é que, em países como Estados Unidos, o eleitor depara com listas plebiscitárias imensas. Os norte-americanos sabem como é sensata a decisão de coincidir eleições gerais com a de plebiscitos. Assim, determinam de antemão aos novos mandatários e legisladores qual a sua vontade.
Na verdade, os que se opuseram à iniciativa são oportunistas ou medrosos. Os primeiros revogam suas supostas convicções em nome das eleições. Os outros temem que o povo se oponha às suas ideias _ ademais, obsoletas. Ambos decidem pela conveniência eleitoral.
Prosseguir investindo dinheiro escasso em energia, mineração e gás serve apenas às corporações que se apropriaram do patrimônio público. Preservar paquidermes interessa à minoria que se apoderou do orçamento, em detrimento das funções essenciais do Estado: saúde, educação e segurança.
Em editorial, Zero Hora perguntou "o que temem os contrários a uma consulta aos eleitores". Além da perda de estatais que servem como cabides de emprego, temem a soberania popular.
Após 33 anos governados pela velha política – PT, PSDB e MDB –, os brasileiros deparam com um momento histórico no próximo 7 de outubro. É a oportunidade de decidir se vamos continuar na rabeira do desenvolvimento econômico e social, ou se vamos avançar como já o fazem países que estavam atrás de nós e hoje surfam na modernidade.