Por João Osório, psiquiatra e psicanalista
Uma população, povo-massa, como diz Ortega y Gasset, precisa de governantes e líderes que tenham representatividade, confiabilidade e tragam segurança. Órfãos dessa figurabilidade, estamos nós brasileiros, numa espiral, se não traumática, perto disso.
Presentemente viveu-se a concretude disruptiva dos elos da cadeia do abastecimento que se desdobrou em múltiplas inseguranças, gerando vivencias e ameaças de desamparo. Sabe-se que Estado e sociedade importam uma relação complexa, cujos os participantes todos da espécie humana, amiudamente estão em zona de conflito. O lema positivista da nossa bandeira, Ordem e Progresso, soa em tantas ocasiões, como estranho e irônico. Se este campo dá margem a grandes questões, sem margem, temos a dominante dependência à roda que faz girar o todo ,expondo a escondida fragilidade das partes da engrenagem, quando a roda patina ou tranca ,nomeadamente nas interdependências do povo e Poder instituído.
O tema abre caminho do público ao privado, pois a dinâmica também se aplica a nós, indivíduos, basta pensar que a Terra gire para e por nós ,construindo a fantasia das certezas, comando e nosso desejo primeiro da lista. Encaixa aqui o tal umbigo do mundo. Então, ao se pensar no coletivo, na rede de fenômenos interligados do dia a dia, quando rompido, vejo semelhança ao tema, doença, quebrando a sincronia do corpo como do psíquico desarmonizando o todo e como sempre, a partir daí, o antes ficará valorizado. Sensação de controle, domínio e inextinguibilidade, ilusões que cindidas da realidade, mesmo que compondo funções mentais necessárias para vive-la, convida que se pense qual relação razoável entre a ilusão e realidade para não matar o poeta, e não alienar o sujeito.
Um leve escorregão nos põe ao chão desarticulados e surpreendidos com o fugaz abalo pela intromissão do inesperado. Assim, adjetivos como, habitual, básico, simples, banal, esfumaçam essencialidades, retiram importância de certos substantivos, num crônico funcionamento de engano. Resumindo, depender é inexorável, o frágil compõe o forte, o pouco pode ser muito, o habitual vezes é essência, o imprevisto será surpresa e a vida segue vida.