Embora a humanidade nunca tenha tido a seu dispor tantas formas de se expressar, há pouco o que se comemorar neste Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Do assassinato de jornalistas, como o brutal atentado que matou nove correspondentes na segunda-feira no Afeganistão, a intimidações de diferentes naturezas e motivações, a imprensa sofre uma onda global de ameaças que, em última análise, mina a democracia e o direito de a sociedade ser plenamente informada.
De um lado, o risco físico para a atividade jornalística cresce não apenas nas zonas de conflito ou acossadas pelo crime organizado ou por regimes autoritários, como em algumas regiões da América Latina: até na pacata ilha de Malta, país integrante da União Europeia, uma repórter investigativa foi morta em dezembro passado por uma bomba colocada em seu carro. No Brasil, são agora cotidianas as situações em que manifestantes descontentes com coberturas neutras agridem repórteres ou tentam impedir jornalistas de fazerem seu trabalho. Numa escalada de radicalização à direita e à esquerda do espectro político, ativistas fanatizados pela
ideologia enxergam em jornalistas que buscam apurar a verdade inimigos a serem silenciados.
Uma das funções primordiais da imprensa é servir de sentinela para as comunidades, reportando 24 horas por dia aquilo que foge à rotina e servindo de vigilante contra os abusos e manipulações dos fatos. Por isso, quando jornalistas ou veículos se calam, seja pela eliminação física, pela coação ou pelo estrangulamento econômico, como se vê na Venezuela, por exemplo, é sobre a sociedade que desce uma cortina de silêncio que obscurece a realidade, favorece privilégios, esconde negociatas, oculta desmandos e alimenta populistas sedentos de aplausos a qualquer preço.
Nos dias de hoje, quando mais e mais pessoas se conectam ao mundo por meio de bolhas nas redes sociais que as isolam de perspectivas distintas, também é missão da imprensa profissional organizada em torno de veículos de comunicação estabelecer pontes entre diferentes grupos de pensamento pela oferta da pluralidade de visões. São os pontos de vista diversos, somados a fatos apurados e descritos de forma técnica e independente, o único antídoto contra as câmaras de eco e a desinformação que grassam no mundo digital. Resistir às pressões, venham de onde vierem, mesmo à custa de agressões e coações, é o compromisso de quem não faz deste dia uma data de comemorações: para o bem da sociedade, liberdade e imprensa precisam caminhar juntas e ambas nunca foram tão necessárias como nos dias de hoje.