O recuo da atividade econômica de janeiro a março, de 0,13% em relação ao último trimestre do ano passado, é um fator adicional de preocupações no setor produtivo. A maior causa de inquietação no horizonte mais imediato, porém, ainda é a disparada do dólar. Embora as economias dos dois maiores parceiros do Mercosul sejam complementares, a situação brasileira é bem mais sólida comparada com a da Argentina. Só não é melhor porque, por razões políticas, fragilizado por denúncias, o
Planalto não conseguiu levar adiante reformas essenciais para reduzir a vulnerabilidade fiscal. Entre elas, a mais urgente é a da Previdência.
As causas da instabilidade cambial são globais, impactadas pela perspectiva de retomada da economia norte-americana e da elevação dos juros nos Estados Unidos. O impacto maior é sobre países emergentes, como vem demonstrando a instabilidade na Argentina. Ainda assim, sob diferentes pontos de vista, o Brasil ostenta indicadores bem mais robustos, tanto na comparação com os registrados há algum tempo, quanto com os exibidos pelo principal parceiro no Mercosul.
A economia brasileira vive hoje um cenário de inflação baixa, com as menores taxas de juros da história e reservas cambiais consistentes. Habilita-se assim a enfrentar com mais segurança adversidades como a atual. É uma situação diversa da registrada em 2008, quando a disparada do câmbio abalou grandes corporações e fragilizou o país perante os investidores. Ainda assim, segue às voltas com ameaças que não podem ser desconsideradas. Uma delas é a acentuada vulnerabilidade fiscal, em consequência de um déficit orçamentário difícil de ser resolvido a curto prazo.
Em períodos de campanha eleitoral, como o que o país tem pela frente, instabilidades econômicas tendem a se acentuar diante das incertezas com a mudança de comando. Por isso, os candidatos à Presidência da República precisam assumir um discurso transparente sobre o que pensam em relação às reformas estruturais, sem as quais terão dificuldade para governar.
O Brasil tem o dever de garantir condições para um crescimento sustentável, que favoreça o enfrentamento de chagas como o desemprego. Sem isso, o risco é o de que, no futuro, possa, sim, enfrentar sobressaltos que, hoje, voltam a afligir a Argentina.