Segundo Freud, são os primeiros seis anos que determinam a vida de uma pessoa. É nesse período que se definem seu caráter e, logo, o seu destino. Há seis anos sou empresário e, nos próximos dias, faço aniversário. Não é uma data redonda, mas tenho um motivo bem especial para comemorar: estou vivo. Apesar do Temer, desse Grêmio que não para de vencer e dos que pedem intervenção militar, eu ainda vivo. E ando bem melhor do que este Brasil que respira por aparelhos.
Aniversário, geralmente, é o dia em que a gente diz quantos anos tem. Mas é, também, o dia de lembrar que o importante não é contar o tempo e, sim, fazer com que o tempo conte. E, para isso, a direção que a sua vida toma é bem mais importante do que a velocidade dela. Tenho pensando muito nisso nos últimos dias, porque o mundo está mudando tão rápido, e a agenda anda tão cheia, que a gente precisa marcar hora para se encontrar consigo mesmo. Uma vez li um artigo que perguntava onde foi parar aquele tempo em que a gente tinha de enviar um fax, ou procurar um telefone fixo para desmarcar um encontro. A tecnologia acelerou o tempo e nos fez sem tempo para nada, porque estamos sempre devendo um e-mail, um whatsapp ou uma curtida para alguém.
E, nessa correria para atender a vida dos outros, a gente não consegue pensar (e às vezes nem cuidar) da própria vida. Afinal, é difícil reparar na paisagem quando se está a 220 km/h. Pensando bem, se a gente só observasse com atenção os lugares por onde passamos todo dia, vendo o que está em volta, respirando profundamente o ar e sentindo de verdade o dia, a gente já mudava de caminho. E se corresse menos sozinho ou andasse mais de mãos dadas, a gente também mudava o jeito de caminhar. E assim a gente ia mudando aos pouquinhos, já que é preciso mudar sempre (lembrando Nietzsche, você só precisa mudar, mudar e mudar até você se tornar o que é).
Dizem que antes do aniversário vem o inferno astral, mas o meu deve ter ficado sem gasolina, porque ainda não chegou. De qualquer forma, continuo aqui pensando sobre a direção dos próximos anos, sobre o que devo fazer para ser feliz. Sem esquecer que felicidade não tem preço, mas isso é diferente de ter felicidade a qualquer preço. Por isso, de presente, quero apenas saúde e a serenidade de saber ler o dicionário. Lá, o A vem antes de tudo, e é nessa letra que moram os amores e os amigos.
Desculpe, Freud, mas quem disse que nos próximos seis anos não vou definir ainda melhor o meu destino?