Nota-se com grande frequência as manifestações dos futurólogos, os que pintam com cores esfuziantes os dias que virão, em especial quanto ao que será então o trabalho dos entes humanos.
Na maioria dos casos se prevê com otimismo uma época em que muitas profissões deixarão de existir, em que o emprego deixará de existir, e em que a sociedade será composta de empreendedores, em sua maioria virtuais, ou seja, os que criarão produtos sem muita visibilidade para o cidadão comum.
Risonhos, esses visionários já trabalham com essas tecnologias, e por isso mesmo sentem-se extremamente seguros quanto ao porvir, para o qual dispõe, desde logo, de todas as ferramentas que os afastarão dos porões do desemprego e da desvalia.
As grandes crises, mesmo que passadas - talvez um cenário indesejável para os futuristas - deveriam ensinar algo. Na grande depressão de 1929 nos EUA, por exemplo, a saída encontrada foi pelos empreendimentos públicos, oferecendo um trabalho qualquer, via estado, para que as legiões de desempregados pudessem recuperar algo de sua dignidade, e, por certo, tivessem o que comer. Com todas as críticas liberais, a recuperação daquela débâcle veio com a reconstrução de uma grande nação.
Em nenhuma dessas manifestações recentes, senti qualquer preocupação desse tipo, ou seja, que se criassem legiões de excluídos (onde já existem, em proporções nada desprezíveis), entre todos aqueles que chegassem a esse risonho futuro sem ter absorvido,de algum modo, essas novas habilidades, que pelas citações, em muitos casos, beiram à genialidade. E a humanidade, como sabemos, tem o gênio entre suas exceções.
Não se trata, por óbvio, de uma proposta obscurantista. O progresso tecnológico é de ser saudado, com todas as letras, desde que olhado em sua dimensão humana, onde, caminhe por onde caminhe o desenvolvimento, esse seja visto sempre na sua estrita correspondência com a vida dos seres humanos sobre a Terra.
Novas tendências, e seus arautos, podem estar, de um lado, olhando para suas próprias habilidades, e para a enorme vantagem com a qual partiriam em uma corrida que pode fazer do futuro outra época em que as desvantagens predominem. E, se é que o porvir pode ser desenhado, a meta principal deveria ser a inclusão, e não o seu contrário.