Em um país que não passamos nem um dia sequer sem um escândalo de corrupção, e que todos envolvidos "juram de pés juntos" que são honestos, moral e crime ainda são conceitos frágeis. A proteção dos direitos das chamadas minorias avança, felizmente, e tem, como instrumento, a união de um grupo definido e a certeza da luta por um direito. Queremos um trânsito com menos mortes? Sim, mas para o brasileiro isso ainda é um direito abstrato demais. No discurso todos querem, mas na vida real não é o que percebemos. No trânsito brasileiro vige "a minha prioridade", e os direitos individuais se sobrepõem ao direito coletivo. A obrigação de soprar o etilômetro no Brasil é tratada como violação da intimidade, quando em países desenvolvidos é inimaginável uma recusa.
No discurso todos queremos um trânsito com menos mortes, mas na vida real não é o que percebemos
Engana-se quem pensa que a atividade de fiscalização é ocasional e inesperada. Pelo contrário, nada mais de utilidade pública e de excelência do que a missão de retirar das ruas quem dirige sob o efeito de álcool; anda com o carro defeituoso ou que não cumpre as regras mínimas de convivência, e que um dia foram parar – em um legítimo estado democrático de direito - dentro de um Código de Trânsito. Nas barreiras diárias e rotineiras não são pegos somente descumpridores das regras viárias, mas criminosos fugitivos da justiça ou que estavam, naquele momento, cometendo algum crime.
Quem avisa os "amigos" sobre barreiras policiais, ou de fiscalização de trânsito, não comete somente uma falha moral e individual, mas também dissemina o que há de pior na nossa sociedade: a hipocrisia. Culpar os outros pela situação do Brasil é o maior equívoco que cometemos. Quem avisa sobre barreiras não é amigo, pelo contrário, pois atenta contra a segurança de todos, além de cometer crime sim, capitulado em nosso ordenamento jurídico. É preciso dizer que é também imoral? Em um país, com mais de 44 mil mortes no trânsito somente em 2017, chega a ser vergonhoso ter que justificar que se trata também de ato criminoso. O dia em que amadurecermos como nação, e cumprirmos as regras de trânsito porque é o certo, e não porque estou sendo vigiado, poderemos discutir crime e moralidade com mais propriedade. Precisamos rever, urgentemente, nossos conceitos de corrupção e de amizade, pelo bem do Brasil.