A que já foi uma das instituições mais respeitadas do Brasil enfrenta as consequências dos seus próprios erros. O anúncio de fechamento de pelo menos 400 agências dos Correios em todo o país, confirmado pelo presidente interino da instituição, Carlos Fortner, é apenas mais um ingrediente desse processo de desgaste. No Rio Grande do Sul, avolumam-se reclamações de atrasos e de não entrega de encomendas e de correspondências.
Um dos fatores decisivos para o aumento da percepção de ineficiência da estatal é o represamento gerado por greves arrastadas e ineficazes, um tiro no pé da empresa e uma janela de oportunidade mercadológica para a concorrência, que vai do motoboy às gigantes multinacionais. Mais uma vez, o corporativismo gera prejuízos aos brasileiros.
Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, Fortner pintou um quadro mais otimista. Garantiu que os índices de desempenho dos Correios estão melhorando e afirmou que o acúmulo gerado pela demanda inesperada no fim do ano passado está sendo corrigido. Essa afirmação, por si só, reflete a falta de planejamento e de investimentos. Movimento extra no Natal não pode ser surpresa nesse setor.
Importante frisar ainda a revelação, feita pelo presidente da estatal, de que mais de 50% do faturamento dos Correios provém hoje do crescente mercado da entrega de produtos comprados pela internet, setor que canaliza as atenções e os investimentos da empresa. O efeito colateral dessa tendência de mercado é o enfraquecimento da distribuição de correspondências, como contas e documentos. É justamente esse ponto o que mais toca o cidadão comum, especialmente os moradores de regiões remotas e com dificuldade de locomoção, seja pela idade ou por limitações econômicas.
A hipótese da privatização não pode ser descartada, uma vez que o Estado brasileiro tem outras prioridades – educação, saúde e segurança. Mas até para uma eventual venda da estatal é fundamental que ela esteja saudável e valorizada, ainda mais no momento em que o e-commerce cresce em todo o mundo e no Brasil, jogando por terra as previsões de que a internet mataria os Correios. O que ocorre, na prática, é justamente o contrário. Apesar do cenário animador desenhado por Fortner, ainda falta muito para que a alegada retomada da qualidade dos serviços seja efetivamente percebida pelos consumidores. Enquanto isso, a concorrência cresce e o patrimônio público vai perdendo valor.