Mesmo com o aprofundamento da crise no setor público, nas três instâncias da federação, os legisladores hesitam em cumprir seu papel constitucional, ou até mesmo se omitem, movidos por interesses meramente eleitorais. Contribuem assim para agravar ainda mais os prejuízos para toda a sociedade, além de aprofundar o desgaste da imagem dos políticos de maneira geral perante a população. A sociedade precisa cobrar dos legisladores que cumpram com suas atribuições, tanto no Congresso quanto na Assembleia e nas câmaras municipais. Essa vigilância se mostra ainda mais necessária diante das dificuldades financeiras num ano eleitoral, em que parlamentares são desafiados a enfrentar até mesmo medidas consideradas impopulares.
No Congresso, que há algum tempo não se reúne para votar, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a ameaçar deputados de desconto nos salários como forma de conseguir cumprir a pauta. Parte da oposição insiste em obstrução como forma de protesto contra a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E a maioria ameaça folgar na próxima semana, devido ao feriado de 1º de maio. Esse tipo de atitude ajuda a explicar por que o Congresso não se dispôs a votar sequer medida provisória da reforma trabalhista, ignorando acordo feito com o Planalto.
Simultaneamente, a Assembleia gaúcha está sendo chamada para se definir sobre a tentativa do governador José Ivo Sartori de assegurar mais prazo para o plebiscito no qual a população poderá se manifestar em outubro sobre a privatização ou federalização de estatais da área de energia. A possibilidade não chegou a ser examinada em 2017. E, na Câmara de Porto Alegre, o prefeito Nelson Marchezan faz nova tentativa de votar um pacote de medidas de austeridade rejeitado no ano passado.
Independentemente do posicionamento de legisladores sobre os temas de interesse direto da população, o importante é que as propostas sejam devidamente discutidas, com ampla participação de representantes da sociedade _ e votadas. Legisladores são eleitos para cumprir com o seu papel constitucional. Não podem se omitir, particularmente em momentos que exigem respostas rápidas, como o enfrentado hoje em âmbito municipal, estadual e federal.