O futuro do emprego vai além da automação massificada de tarefas repetitivas. Diferentemente das fases industriais anteriores, a nova onda de substituição de homens por máquinas também incorpora a capacidade cognitiva das novas tecnologias. Elas agora são capazes de produzir diálogo, visão, e aprender com base em exemplos. A assim chamada inteligência artificial.
Uma regra de bolso para descobrir se um emprego tem alto risco de automação é identificar se ele possui uma rotina previsível e é feito por um profissional de média qualificação.
Não somente os profissionais de telemarketing estão na lista de risco de substituição, mas também os contadores e os advogados
Ser previsível é diferente de ser repetitivo. As máquinas de hoje já se adaptam a um número imenso de contextos que podem surgir numa tarefa. Veja, por exemplo, os carros autônomos. Eles possuem geolocalização para determinar o trajeto, sensores para estacionar, e câmeras para detectar os sinais de trânsito.
Quando a qualificação requerida para uma tarefa é pequena, o salário também é baixo. Portanto, a substituição por uma máquina é relativamente menos atrativa. O retorno do investimento em automação é maior na substituição de tarefas que exigem algum nível de treinamento, e portanto, uma compensação maior. Um computador não perde tempo de aprendizado assistindo Netflix ou nem sequer deixa de prestar atenção para conferir as notificações recebidas no telefone celular.
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Assim, não somente os profissionais de telemarketing, analistas de crédito e motoristas estão na lista do alto risco de substituição, como também os contadores e os advogados revisores de processos. Outro exemplo são os radiologistas. Em novembro passado, o algoritmo ChexNet da Universidade de Stanford aprendeu a detectar pneumonia a partir de raio-X com uma precisão que excede a dos especialistas humanos.
O que mais deve nos preocupar é a coordenação e consciência das sociedades sobre esse desafio iminente. Por exemplo, existe uma grande dissonância entre as estimativas de automação da OCDE, da Universidade de Oxford e das consultorias globais, e a consciência do público trabalhador. Apenas 6% dos trabalhadores americanos dizem que provavelmente perderão seu emprego por conta da automação.
A ausência de uma política de transição, privada ou pública, que inclua a formação adequada de novas habilidades, é o risco que atormenta a quantidade e a qualidade do emprego no mundo. Desde os anos 2000, a fatia dos empregos de alta qualificação têm caído nos EUA. Assim, estudantes recém graduados já estão tendo que migrar para empregos cognitivamente menos intensivos, o que incentiva a perda do emprego dos menos educados.
O ambiente de negócios dos anos 2020 será mais suscetível à choques, tanto de demanda quanto de oferta. Ele terá a automação massificada combinada com o envelhecimento da população e a redistribuição dos ganhos em favor daqueles que exercem criatividade intelectual e inovação.
Os governos provavelmente terão que reorientar a mensagem da educação que é atualmente proporcionada. As empresas terão que redesenhar o ambiente de trabalho e a cultura organizacional em favor desse aprendizado contínuo. Por fim, as famílias terão que se manter engajadas nessa busca constante, voluntária e auto-motivada pelo por novas habilidades. O Primeiro Mundo está chamando isso de aprendizado vitalício ("lifelong learning").