Reafirmada como prioridade de governo pelo novo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, a privatização da Eletrobras esbarra em objeções que não partem apenas de líderes de sindicatos de trabalhadores. Parlamentares com influência nas subsidiárias locais e aos quais caberá a palavra final no Congresso também fazem restrições. Enquanto isso, a conta da ineficiência, em consequência dos interesses particulares de uma minoria privilegiada, é transferida para todos os contribuintes.
Se os interesses particulares prevalecerem, quem vai continuar arcando com o custo extra dos equívocos na maior empresa de energia do país são os contribuintes
Nos últimos cinco anos, em consequência de decisões como a redução das tarifas no governo Dilma Rousseff, do agravamento da crise e mesmo da corrupção, a Eletrobras acumula prejuízos de R$ 28 bilhões. Ainda assim, políticas equivocadas de investimentos se mantêm de forma rotineira, mesmo no caso de empresas com dificuldades até mesmo para pagar fornecedores em dia. Esse tipo de prática se soma aos interesses por cargos influentes por parte de líderes políticos, reforçando os argumentos de quem pretende preservá-la como estatal.
Símbolo de um poder público centralizador, a Eletrobras é um conglomerado de subsidiárias nas áreas de geração, transmissão e distribuição de energia espalhadas por todo o país, incluindo um centro de pesquisas e metade da usina de Itaipu. Algumas dessas empresas vêm sendo investigadas por suspeitas de esquemas de corrupção e de financiamento irregular de campanhas eleitorais. O caso mais conhecido é o de Angra 3, envolvida nas apurações da Operação Lava-Jato. Nem a entrada em vigor da Lei das Estatais, criada com o objetivo de conter indicações políticas, conseguiu impedir que muitos de seus dirigentes sejam apadrinhados de partidos hoje na base do governo.
O processo de privatização, que pode render R$ 12 bilhões aos cofres públicos, deve ocorrer com o aumento do capital social da Eletrobras, que oferecerá novas ações na bolsa, diluindo com isso a participação dos atuais acionistas. Diante da torcida contrária, porém, é improvável que as negociações avancem com facilidade.
Se os interesses particulares prevalecerem, quem vai continuar arcando com o custo extra dos equívocos na maior empresa de energia do país são os contribuintes. Daí a importância de que o diálogo sobre a inclusão da empresa no Programa Nacional de Desestatização (PND) seja feito de forma aberta e transparente.