É significativo que duas obras tão aguardadas pelos gaúchos tenham sido reiniciadas com a demolição de parte do que já havia sido feito – depois de terem consumido altas somas de dinheiro dos contribuintes. Em ambos os casos, desfazer o que havia sido mal feito foi a alternativa menos onerosa para que os empreendimentos possam ser levados adiante. Os contribuintes não deveriam aceitar como normal esse padrão de desperdício de dinheiro público, que só se mantém por falta de uma cobrança mais efetiva e de punições para os responsáveis.
Uma das obras incluídas nesse caso é a comemorada expansão do aeroporto Salgado Filho. A retomada será marcada justamente pela demolição do que já havia sido iniciado – o novo terminal de passageiros, no qual foram consumidos mais de R$ 30 milhões, sem que os trabalhos fossem concluídos. Outro caso típico é a trincheira da Avenida Ceará, primeira das obras da Copa ainda de 2014 a ser retomada, a partir da obtenção de empréstimo pela prefeitura da Capital. Assim como ocorreu no aeroporto, onde o custo de demolir o que foi mal feito se mostrou menor, o mais recente canteiro de obras vai começar pela retirada da pavimentação com problemas num trecho da Avenida Farrapos, que segue bloqueado.
Em ambos os casos, além do dinheiro perdido, os contribuintes vão ter que arcar com um tempo extra de espera, sempre superior ao previsto inicialmente. O agravante é que esse tipo de padrão de realização de obras em todo o Estado não se deve unicamente à falta de verbas. Em grande parte, a principal razão é a ineficiência do setor público desde a fase de planejamento até a elaboração do projeto, passando pelas deficiências de fiscalização na fase de execução. O resultado, na prática, é a necessidade de, muitas vezes, tudo precisar ser refeito, começando do zero. Esse fazer e refazer constante faz com que os contribuintes fiquem às voltas com os transtornos de canteiros de obras paralisados por longos períodos, sem usufruir dos ganhos.
De diferentes formas, a situação se repete por todo o Estado, impondo um custo adicional com o qual os contribuintes não podem se conformar. Nenhum empreendimento deveria ser iniciado sem um projeto adequado e sem a certeza de que poderá chegar ao final com uma fiscalização rigorosa em todas as fases de execução. Se o poder público não tem competência para isso, é preciso que venha a apostar mais em parcerias com a iniciativa privada, garantindo mais eficácia a cada centavo investido.