A informação de que os salários da diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) chegam a superar R$ 100 mil mensais dá uma ideia do quanto as distorções na área administrativa não se limitam a vencimentos acima do teto nos poderes. Embora menores do que os normalmente pagos nesses casos para executivos financeiros do setor privado, os ganhos reforçam a impressão de que algumas estatais vivem num mundo à parte, imunes à crise de um setor público às voltas com desequilíbrios crônicos. O ajuste nas contas federais só faz sentido se incluir também as estatais, muitas das quais sugam anualmente volumes consideráveis de recursos do orçamento da União.
Os salários elevados nas instituições financeiras do setor público, revelados pelo jornal Folha de S. Paulo, se repetem proporcionalmente em outros bancos públicos. No Banco do Brasil, incluindo o pagamento de bônus baseados em ações e remuneração variável, os ganhos nas faixas de diretoria atingem R$ 87,4 mil mensais. Na Caixa Econômica Federal, o valor dos salários mais o da remuneração variável é de cerca de R$ 60 mil. No caso do BNDES, há uma gratificação fixa de 25% para todos os funcionários. Esse tipo de vantagem, que não é isolada, levou um ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), depois de uma auditoria realizada no ano passado, a afirmar que os valores pagos aos servidores em geral "fariam corar qualquer pessoa dotada de bom senso".
Mesmo com a fixação de um teto de gastos, as corporações estatais mantiveram a pressão por gastos no último ano, elevando salários e dispêndios com pessoal. Só nos últimos dois anos, foram direcionados mais de R$ 40 bilhões do orçamento federal para a manutenção das estatais. Mesmo entre as empresas dependentes de repasses da União, os salários, em alguns casos, passam de R$ 20 mil ao mês. E sem qualquer garantia de que ofereçam retorno proporcional a esses investimentos.
Se a intenção é manter os gastos dentro do teto predefinido, o governo federal precisa rever prioridades e privilégios que não combinam com um setor público com finanças desequilibradas. Uma máquina administrativa em dificuldades financeiras não tem como tomar como parâmetro os salários do setor privado para remunerar dirigentes indicados na maioria das vezes por critérios políticos.