Quando parece que nada mais pode nos surpreender, novas situações bizarras surgem para nos contrariar. Estou me referindo à nova polêmica na mídia sobre a atuação das forças militares que, pasmem, estão a fotografar cidadãos e suas carteiras de identidade nas favelas do Rio de Janeiro. Representantes da OAB, da defensoria pública e dos direitos humanos estão revoltados, pois essa prática, segundo eles, atenta contra os direitos individuais e humilha os pobres moradores a ela submetidos. O estranho é que rotina semelhante é utilizada há muito tempo em edifícios comerciais e até públicos em Porto Alegre sem que nenhuma dessas instituições jamais tenha se posicionado contra. Você não entra sem se submeter a um procedimento semelhante, no qual é fotografado e sua carteira de identidade escaneada.
Qual é o critério para que um determinado protocolo seja considerado agressão?
JOÃO ELLERA GOMES
Médico
Qual é o critério para que um determinado protocolo de identificação seja considerado como uma agressão às liberdades individuais? Capacidade de oferecer espaço midiático? Potencial de alavancar carreiras políticas? Ou não será porque a violência urbana, que tem seu ápice no Rio de Janeiro, está tão entrelaçada com importantes esferas da sociedade civil, que qualquer tentativa de combatê-la tem de ser boicotada, nem que seja através de um esforço de desmoralização das Forças Armadas, hoje a instituição que desponta como a mais respeitada pela população em enquetes realizadas por diferentes agências de pesquisa de opinião? Se um militar for convocado para uma situação de confronto regular, o seu adversário deverá estar devidamente uniformizado para se diferenciar da população civil, em acordo com o DIH (Direito Internacional Humanitário) e os adendos à convenção de Genebra.
Quando esse militar se destaca da população em geral sem a contrapartida do seu inimigo, fica numa situação totalmente desvantajosa, correndo risco de vida real e concreto. Dessa forma, enfrentando um contingente traiçoeiro e covarde, que usa o subterfúgio de se misturar à população civil para agir impunemente, qualquer tentativa para separar trabalhadores de meliantes deveria ser elogiada e não criticada. Ou, então, deve haver muita gente interessada no quanto pior, melhor, ainda que ao preço de dolorosos danos colaterais.