Há poucos dias, Barcelona anunciou as primeiras quatro ideias para transformar a cidade em uma das capitais mundiais da inovação. O projeto se chama Avenida Futuro. Lá, empresários e poder público trabalham juntos, sem os preconceitos e as desconfianças que temos aqui. A primeira iniciativa é um espaço físico aberto, de cocriação, chamado 4BCN. Reúne pessoas inquietas e criativas de comunidades e múltiplos setores (educação, saúde, mobilidade, alta tecnologia, cultura) com o objetivo de buscar soluções para os problemas urbanos. É um grande laboratório de ideias para conectar os agentes econômicos com a cidadania, que vai trabalhar nas áreas de network, pessoal e estratégia de startups.
Quando estive no Vale do Silício com um grupo de empreendedores, uma das visitas que fizemos foi ao prefeito de São Francisco. Entre outras iniciativas, ele tirava um dia da semana, regularmente, para visitar empresas e perguntar: o que a prefeitura pode fazer para estimular o crescimento da sua empresa e criar mais empregos? E atuava a partir das necessidades apontadas. É essa mentalidade de colaboração para resolver os grandes problemas públicos que sinto que nos falta. Muitos governantes e a máquina pública estão distantes das reais necessidades da sociedade. Gigantescas, ensimesmadas, burocráticas, tentam atuar em todas as áreas, mas pouco ajudam na busca de dias melhores.
Agora mesmo, estamos enrolados em intermináveis debates para saber se as estatais devem ou não ser vendidas, como se o papel do Estado fosse ser dono de empresas. A maioria delas está ultrapassada e endividada. Foram estratégicas, mas hoje não fazem mais sentido permanecerem públicas. Por que o Estado deve produzir carvão, distribuir gás e eletricidade ou ser dono de banco, se tem gente que faz melhor e mais barato?
O papel do Estado – em todas as suas instâncias, federal, estadual e municipal – é dar condições para a sociedade se desenvolver, criando um ecossistema onde tudo trabalha a favor de gerar mais riqueza e distribuí-la adequadamente, criando empregos. Investir em segurança, saúde, educação e infraestrutura decentes é muito mais importante do que ser dono de estatais. Atuam – mal – em muitas áreas e deixam o essencial em situação precária. É por essas e outras que, fora daqui, continuamos sendo olhados como gauleses (terra do Asterix), onde tudo é difícil e atrasado.
Com isso, afugentamos investidores, perdemos nossos talentos e ficamos atolados nos mesmos problemas. Há mais de 30 anos nossa agenda é a mesma: ensino, estradas e segurança ruins. Agora, além desses já crônicos, não conseguimos nem mais pagar os salários em dia. Falta-nos uma visão estratégica de futuro. Precisamos fazer as escolhas certas. Manter tudo como está, com estruturas obsoletas? Ou criar um ambiente mais leve e ágil, buscando o estado da arte para setores fundamentais?