O fim de 2017 talvez tenha marcado o ápice das trapalhadas do governo gaúcho. No fim de novembro, o vice-governador, José Paulo Cairoli, afirmou à Agência Brasil que a venda parcial de ações do Banrisul deveria ocorrer até o dia 14 de dezembro. Naquele momento, apenas o governo parecia acreditar na concretização da operação. Na semana seguinte à declaração de Cairoli, a venda foi cancelada.
O cancelamento da operação não surpreende, tendo em vista a forma pouco inteligente e atrapalhada que a operação foi estruturada. Segundo o governo, o adiamento teria ocorrido em função das condições de mercado desfavoráveis em dezembro. No entanto, nessas mesmas condições, o mercado absorveu, sem maiores problemas, as ofertas de ações da BR Distribuidora, Restoque e Sanepar.
O RS poderia seguir o exemplo do Paraná, que ao anunciar a venda parcial das ações da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) já divulgou em fato relevante que a oferta seria cancelada se o preço das ações ficasse abaixo do valor patrimonial da empresa. Isso é prezar pelo patrimônio público.
Para encerrar o ano, após o parecer contrário à habilitação do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) pela Secretaria Nacional do Tesouro (STN), o governo partiu para a pressão política na tentativa de reverter a decisão. Após quatro semanas de negociação e o envolvimento alardeado na imprensa do ministro Eliseu Padilha para pressionar a STN, o governo gaúcho terá de fazer exatamente o que a STN exigia e o que prevê a lei. O decreto que regulamenta o RRF diz que, na hipótese de rejeição relativa ao pedido de adesão, o Estado poderá reapresentá-lo, a qualquer tempo, à STN.
Segundo o protocolo de acordo entre o RS e a União, o Estado terá de reapresentar o pedido de assinatura do pré-acordo e publicar os demonstrativos contábeis e fiscais de 2017 de acordo com os manuais da STN. Diferentemente do que transpareceu o governo do RS, a União não cedeu em nenhum aspecto.
O ano de 2018 começa para o RS como terminou 2017. O governo tenta soluções mágicas, sem sair do lugar. A cada mês a situação do Estado piora. Em janeiro, mesmo sem pagar a dívida com a União e com a arrecadação do IPVA, o governo segue parcelando salários e pedalando contas. A adesão ao RRF ainda deve demorar. Enquanto isso, o Estado e a população sangram.