Em 2014, a rotatividade no setor público atingiu 19,8% do seu quadro. Apesar da estabilidade, do regime exclusivo de previdência e outros privilégios, um em cada cinco servidores públicos trocou de local de trabalho. Naquele ano, uma renomada empresa de clima organizacional apontou que, dentre 1.276 organizações analisadas, as melhores empresas para se trabalhar têm algo em comum: o alto engajamento e a satisfação de seus funcionários com o trabalho que executam.
Engana-se quem acreditar que alto engajamento significa envolver seus funcionários em causas consideradas nobres (atender pessoas em necessidade, doações etc.). A cultura do alto engajamento é sustentada por quatro pilares: recompensa por metas atingidas, oportunidades de crescimento, reconhecimento perante os colegas e qualidade de vida.
Que engajamento esperar do policial dedicado que se preocupa em resolver crimes, enquanto seu colega fica no carro ouvindo o rádio?
Recompensa por metas e oportunidade de crescimento são retornos que tocam no autointeresse do funcionário. A economia ensina, já com ampla comprovação em dados, que o ser humano toma decisões primeiramente autointeressadas e reage a incentivos. Recompensar um professor dedicado, que prepara aulas, e foca na qualidade do ensino incentiva essas boas práticas. Resultado: alunos mais bem preparados.
Logicamente, como dinheiro não é sinônimo de felicidade, a recompensa precisa ser ampla. Horários mais flexíveis, oportunidades de capacitação, benefícios de maior qualidade e oportunidades de implantar projetos alinhados entre funcionário e organização ajudam a impulsionar esse engajamento.
Já o reconhecimento e a qualidade de vida são recompensas que tocam no gosto pela convivência. O ser humano é um "animal social": é natural que compartilhe seus sucessos com seus pares. Se a organização reconhece os melhores funcionários ela os ajuda a ser referências. Referências aproximam-nos entre si e facilitam a criação de grupos de trabalho espontaneamente. Trabalhar com um colega que você admira torna o ambiente mais leve e aberto e estimula a troca de informações. Ambientes mais descontraídos refletem-se em menos estresse, mais tranquilidade e produtividade.
Você gostou do exposto acima? Pois seja bem-vindo à meritocracia: recompensar individualmente e reconhecer socialmente o bom funcionário. Isso valoriza o indivíduo que fez mais e melhor, e faz justiça socialmente: reconhecê-lo perante todos pelos esforços para si e sua equipe.
Infelizmente, as regras atuais do serviço público são uma fonte de injustiça. Em vez de reconhecer os bons, rebaixam os servidores de alto desempenho ao nível de colegas que pouco fazem. Que engajamento esperar do policial dedicado que se preocupa em resolver crimes, enquanto seu colega fica no carro ouvindo o rádio?
Criamos o Estado de direito para resguardar as vidas, liberdades individuais, o direito de ser dono dos frutos do seu trabalho, criar democraticamente e aplicar regras para punir exemplarmente quem violar tais direitos. Para cumprir sua função fundamental, além de abdicar de tarefas que a iniciativa privada faz melhor, o poder público precisa mudar suas regras. É hora de reconhecer e premiar os funcionários dedicados a servir ao cidadão pagador de impostos, em vez de igualá-los aos mais interessados em servir-se da sociedade.