O momento não é dos melhores. Às vezes passamos por situações que nos fazem derrapar em curvas e parece perdermos o controle de tudo. Quando então me lembro das palavras de uma crônica de Martha Medeiros que diz "Por isso é necessário ler muito, ouvir os outros, estagiar em várias tribos, prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos." Leituras e tribos variadas alimentam meu espírito.
O que acontece com o cidadão brasileiro? Faltou-lhe escola. Falta escola para a arte. E arte precisa de conteúdo. Das páginas policiais para museus. Das páginas mais lidas para os lares que colhem os frutos da falta de escola. Se Humberto Eco disse que a internet deu espaço para os otários... agora eles já começaram a ocupar os museus. Se até a relação das palavras exige disciplina e hierarquia, o que dizer das relações humanas!
As palavras se respeitam. Elas têm posição e hierarquia.
As palavras se compreendem, basta o otário não fazer o que não deve. A palavra é um ente vivo: nasce, morre, cresce, amplia significados, ocupa espaços variados em relação aos seus semelhantes, muda seu sentido semântico, sua função gramatical. Aquele afável "o" pode ora ser artigo, pode também ser pronome, mas jamais tentará ser o que não pode. Não pode travestir-se em algarismo para engordar minha conta bancária. A letra "o" não é otária. O substantivo "escritor" pode sim manter amigável relação com o leitor, ao ser um "escritor leitor", podem também trocar de posição, por amigos serem, e ser então "leitor escritor".
Ler "As escritores escreve." choca, pois é uma período no qual não se cumprem normas gramaticais, mas não é arte. Arte é produzida por artista e não por arteiro. Para escrever é necessário conhecimento, inclusive das normas gramaticas. Para apreciar as coisas dos arteiros, basta saber "admirar" e saber dizer coisas, sem o conhecimento de normas – isso também choca. Se tudo que ultrapassa limites, rompe paradigmas, e faz questionar é arte, então o Brasil é o maior ateliê a céu aberto. "Le Brésil n'est pas un pays serieux" – "O Brasil não é um país sério." Falta escola de conteúdo.
As palavras se respeitam. Elas têm posição e hierarquia. Elas são humildes, pois aceitam mudar de sentido e até de classe gramatical ao mudar de posição. E já, por não mais compreender-nos pela palavra, o outro morre – na sintaxe da emboscada. A flexibilidade da nossa língua, torna-a mais complexa para os ignorantes, que dizem tudo daquele mesmo jeito, com meia dúzia de vocábulos, e acabam então falando, mas não dizendo.
Querer dizer o pensamento de forma precisa, desenvolve a capacidade de pensar. Pensar exige - exige atitude. Exige tudo – tudo que nos permite pensar onde e quando quisermos. Exige, quem pensa, pois cumpre e respeita.