No último domingo, 1º de outubro, poucos se deram conta da coisa bobinha que é o transcurso do Dia Internacional do Idoso. Homenageia-se pretensamente uma faixa etária algo desconsiderada num mundo voltado ao jovem, que é o destinatário de tudo o que o tal mercado perpetra. Qualquer ação publicitária, imaginavelmente cultural, de boemia ou lazer visa ao jovem. Ao velho se reservam ações de inclusão (essa é boa!), cuidados com acessibilidade, como corrimãos postos adrede, acomodação e atendimento preferencial, além de miúdo espaços publicitários nas mídias para propagandear fraldas descartáveis, adesivo para dentaduras, planos de saúde, florais para melhorar a libido, ou mesmo fazer papel de velho desconexo.
Nos atendimentos em locais de serviço de elevada demanda em balcão, a desconsideração com o velho vigora
Ainda que o politicamente correto recomende afetividade para com o ancião, também a ele é reservada a desconsideração interpessoal e a chacota. Dia desses, estava a fazer a minha corrida cotidiana de 8 quilômetros (que faço há 36 anos), quando passa um caminhão e alguém da cabine do motorista gritou: "Vai pra casa, véio!" (sic). Já ouvi também num dia frio: "A pneumonia vai te pegar!" Nos atendimentos em locais de serviço de elevada demanda em balcão, a desconsideração com o velho vigora. E quanto à família? Bem, aí há ambiguidades, entre discurso e prática. Vejamos o seguinte: acaso terá o leitor notado em determinada ocasião, em algum restaurante, no almoço dominical, uma mesa familiar de comensais de, digamos, doze criaturas, avós velhos, filhos adultos, noras ou genros e netos, onde os anciãos ficam sentadinhos na ponta da mesa, vis-à-vis, tartamudeando ou silenciosos, enquanto o resto da turma conversa ou discute com ademanes sem dar muita bola para os avós silentes que ali restam? Dá o que pensar.
Nós, os velhos, olhamo-nos ao espelho e enxergamos a senilidade; espiamos nossas mãos e ali percebemos os desenhos do tempo; caminhamos e podemos muitas vezes sentir-nos claudicando. Porém, embora, às vezes, esquecendo alguns fatos remotos ou mesmo mais recentes da vida – isto é, a memória dando suas rateadas –, o indivíduo na velhice (e isso se faz de conta que não se o percebe ou valoriza), tem a compensação de um pleno desempenho intelectual, porque agregou experiências durante o passar dos anos, as quais lhe proporcionam uma cosmovisão especial que não pode ser igualada pelo jovem: a sabedoria pela experiência só se adquire por meio dela. Mas como vivemos tempos da pueril inovação, obviamente só inova quem é jovem, quem tem espírito jovial e uma vida pela frente: a esses é reservado o poder de ter ideias, conquanto o invulgar Einstein tenha dito ao final de sua vida que ao longo dela pôde ter uma ou duas ideias inovadoras.