Mais do que políticos e gestores públicos de um número cada vez maior de partidos pegos agindo contra a lei, o que o estágio alcançado pelo combate à corrupção no país vem mostrando é o quanto as situações e as explicações se repetem de forma exaustiva. E isso ocorre mesmo que faça cada vez menos sentido entre a população. Políticos em campos opostos como o presidente Michel Temer, denunciado novamente ontem, desta vez pelos crimes de organização criminosa e obstrução da justiça, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pressionado pela Lava-Jato, partem para as mesmas táticas. Na tentativa de se livrar das consequências perante a Justiça, tratam de obstruí-la ou atacá-la. Publicamente, insistem em teses semelhantes de perseguição. E todos se acusam uns aos outros, buscando confundir ou atingir particularmente quem os coloca no foco das apurações. A preocupação maior é se autoproteger, não prestar contas à sociedade, revidando as acusações.
No ponto alcançado pelas investigações _ e mesmo com as instituições fragilizadas por falhas, equívocos e divisões internas _, o que fica cada vez mais evidente é a intolerância generalizada a corruptos e corruptores. As falcatruas das quais são acusados acionistas da JBS, por exemplo, já seriam suficientes para elevar a saturação com esse tipo de ato cotidiano ao seu nível máximo. A cada dia, porém, cresce o número de envolvidos em irregularidades. Na maioria dos casos, a acusação é a mesma: desvio de dinheiro público. Os brasileiros não podem se conformar com isso.
Menos mal que, confrontadas por quem tenta fugir ao cerco, instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF) resistem, reafirmando-se como guardiãs do processo de depuração enfrentado pelo país. Não há outra forma de garantir que, ao final, possa surgir um novo e definitivo parâmetro nas relações entre os setores público e privado.
É preciso que a sociedade se mantenha particularmente alerta. Todos os esforços realizados até agora não podem ser desperdiçados em consequência das pressões de uma verdadeira corporação de acusados, a cada dia mais numerosa e com integrantes mais poderosos, com atuação até no Palácio do Planalto. Esse é o momento de o país fortalecer sua democracia, mudando a forma de fazer política e gerir o setor público, se não quiser sucumbir à hipocrisia, deixando tudo como está.